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O que importa à maioria silenciosa

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Até aonde vai o apoio dessa gente que não externa opiniões nas redes sociais?

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Dr. Walter Marcos Knaesel Birkner*

Publicado originalmente em 2/2/2020

 

 

O que pensa a maioria silenciosa sobre o presidente? Até aonde vai o apoio dessa gente que não externa opiniões nas redes sociais? A princípio, as afrontas presidenciais mais desvelam suas próprias falhas do que as mentiras dos opositores, as ações corajosas e uma possível recuperação econômica. Mas, bem no fim, pouco importa se a beligerância do presidente faz parte de um cálculo maquiavélico ou não. O homem comum que integra a maioria silenciosa sabe que o presidente é razoavelmente bem-intencionado e por essa razão o elegeu. Mas também sabe que é no Céu que valem as boas intenções, porque na política a paciência se esgota e o que interessa mesmo é o resultado econômico.

 

 

 

Uma recente pesquisa da FSB, encomendada e publicada por Veja (28/08/2019), entrevistou 2000 pessoas Brasil a fora e demonstra que a maioria apoia o presidente, mas não concorda com tudo. Acha que o governo vai bem no combate à corrupção e na segurança (enquanto o ministro Moro é “engavetado”). Por outro lado, vai mal na saúde, na educação e no combate ao desemprego. No mais, é ligeiramente a favor da reforma da previdência, contra a privatização e contrária à liberação do porte de armas. A confiar na pesquisa, é fácil entender o povo, que expressa cautela e bom senso. Mas, detalhe: pra esquerda, a Veja é de direita e, para a direita, é comunista. Vai entender essa gente!

 

 

 

 

As impropriedades do presidente revelam uma perigosa ignorância que o leva a falar demais. Dá pitaco na eleição da Argentina (nosso importador), diz que Macron é de esquerda, que ele próprio é um moderado, que a Noruega é a Dinamarca, que nepotismo não é nepotismo e que torturador foi herói. E, a considerar seu respeito por Olavo de Carvalho, talvez acredite que Geisel e Golbery eram comunistas. Isso, inclusive, atenua a malícia dos que o acusam de burrice, além de homofobia, racismo, misoginia e essa lenga-lenga do liberalismo identitário que, por desonestidade de seus defensores, arrebentou com a seriedade desses temas, inclusive do meio ambiente.

 

 

 

 

Entretanto, o mais importante pode vir nos próximos seis meses, quando teremos mais dois índices trimestrais de desempenho econômico. A alta do segundo trimestre, de 0,4% pode ser representativa em razão de medidas como a baixa dos juros, que começa a tornar mais atrativo investir do que aplicar. Coincidência ou não, o que puxou o crescimento foram a indústria e a construção. O consumo subiu e o desemprego baixou. Não obstante, chama à atenção o fato de que o que mais segurou o crescimento foi a retração do gasto governamental, igual a 1%. Se estiver em curso uma disposição real nessa direção, ela não só será plausível, mas, paradoxalmente, favorável a índices futuros.

 

 

 

Tesourar o gasto público é promessa de campanha e materializa aquilo do que se vem falando há décadas como a primeira causa-problema a explicar, afinal: por que o Brasil não cresce? Insista-se: essa pergunta nos tirou o sono durante décadas e agora poderá ser respondida. A economia mundial cresce há anos, nossos vizinhos nos superam anualmente e nossas elites políticas não foram capazes de admitir isso honestamente. Quando a maioria silenciosa finalmente percebeu isso, elegeu o presidente a quem confiou a tarefa de destravar o País, com o lema “mais Brasil e menos Brasília”, que significa mais Sociedade trabalhadora e empreendedora, menos expropriação estatal.

 

 

 

 

Nesse sentido e a despeito de críticas, pode-se dizer que o presidente da República não é um político calculista. Sua atitude beligerante e maniqueísta tem, é verdade, um componente clássico e irritante do velho populismo autoritário. Mas essa estratégia parte de sua rede de apoio, que insiste na propaganda política de que há um complô permanente para derrubar o presidente. Por isso, seria preciso apoiá-lo “a qualquer custo”. E, reconheça-se: no curto prazo, a estratégia é eficaz. Dá certo porque a rede de apoiadores não deixa passar uma crítica. Há sempre um contra-discurso, logo reverberado entre seus eleitores e até certo ponto assimilado pela maioria silenciosa.

 

 

 

 

O interessante é que não se trata de pura falácia. Admita-se ou não, o presidente representa a contraposição a instituições desgastadas como o legislativo e o judiciário – este último finalmente perdendo a aura de intocável. Cansada das tramoias que a lógica institucional do presidencialismo de coalizão produziu, a maioria apoia o presidente. Isso torna tudo muito interessante e paradoxalmente novo, porque a mudança foi impulsionada por forças conservadoras e não progressistas. O detalhe é que a “estratégia” do conflito aberto fabricada pela rede de apoio presidencial dá certo, inclusive, porque o protagonista não precisa representar, basta ser quem realmente é.

 

 

 

E não nos enganemos: não fosse esse apoio, o presidente já era. Acontece que a rede de apoio demonstra eficiência comunicativa, oferecendo um discurso ao sentimento relativamente coeso da maioria silenciosa. E, por mais que doa aos cotovelos, a estratégia, aliada à espontaneidade do presidente, encurralou judiciário e legislativo, com o apoio das ruas barulhentas. Despiu a arrogância do STF e só não fragilizou mais o judiciário porque o presidente cometeu a perversão de mancomunar, ao proteger um filho pateticamente suspeito de “rachadinha”. Em troca, cavou o buraco que enterrou a “Lava toga”, devolvendo a soberba aos “donos do poder”, aqueles que não simplesmente fiscalizam as leis; eles as fazem.

 

 

 

 

No segundo caso, o presidente quebrou o elo de negociação fisiológica do presidencialismo de coalizão. O rompimento não foi total, mas o suficiente para obrigar o legislativo a legislar, sob o risco de cair no ostracismo e confirmar o preconceito sobre sua inutilidade institucional. Poucas vezes se viu um legislativo tão atuante como em tempos de Bolsonaro. Provocado por um presidente sustentado pelas ruas, redes sociais e um ministério de notáveis militares, o legislativo se debruçou sobre temas republicanos. Discutiu a previdência e agora quer protagonizar a mais importante de todas as reformas: a tributária. Que democrática contradição! Como foi que isso não aconteceu antes?!

 

 

 

Os impropérios, o anticomunismo anacrônico, o corporativismo militar, o familismo amoral e algumas caneladas presidenciais estão na conta da paciência cronometrada da maioria silenciosa. O homem comum sabe que a franqueza do presidente e seu combate a privilégios ainda está acima da média da classe política. Pouco importa que brigue com o presidente francês, desde que isso não impeça um europeu de comer a carne de porco exportada pelos catarinenses. Se os negócios prosperarem e os investimentos vierem, ao largo de um Estado mais ajuizado, a indignação do presidente francês e os impropérios do presidente brasileiro viram fumaça.

 

 

 

 

 

A crítica é o sal da vida, já dizia o filósofo grego. Também o dizia o General Golbery, chefe do Serviço Nacional de Informações, em defesa do sistema bicameral nos tempos da ditadura. O questionamento, escrupuloso ou não, não deve ser desprezado, nunca censurado, jamais proibido. Não obstante, é bom considerar: a maioria silenciosa não é tão exigente quanto a crítica idealista e sofisticada da imprensa e da Universidade, mas pode ser mais realista. O que realmente importa à maioria silenciosa é a maior liberdade possível, uma desonestidade tolerável e, sobretudo, carteira assinada, manga arregaçada e comida na mesa. E isso não pode mais demorar.

 

 

 

 

 

*Dr Walter Marcos Knaesel Birkner é sociólogo

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