quinta-feira, 28

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março

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O milagre de uma restauração

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Divagando entre emoções

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Hoje eu tento encontrar tintas para colorir as imaginárias aquarelas que a minha mente povoaram nestes últimos dias.

Porque atravessei as nuvens e voei até os espaços siderais. Momentos jamais imagináveis em tempos de outrora quando apenas céus carregados de chumbo tumultuavam minha mente.

Outro dia já jorraram por estas páginas palavras minhas em torno de emoções intensas quando apenas os preâmbulos se abriam.

Das profundas amarguras renascemos ao ouvirmos uma simples palavra amiga. Mesmo que aos precipícios das tristezas sejamos jogados, âncoras de luz, de amor, de carinho e compreensão alçam-nos ao retorno da paz interior. Ao lar que nos abriga em todas as estações, em todas as intempéries.

Há o tempo em que pensamos que mal algum jamais nos atingirá. Pensa-se que as lágrimas virão, sim, mas serão apenas as da saudade inevitável dos tempos vividos na paz e no amor. Porque aprendemos que ruminar pensamentos que nos perturbam não nos aquecerá nos caminhos e mares que ainda teremos que singrar.

E a vida vai sendo vivida e levada, segundo a segundo, transpondo as agruras, as dores físicas, as dores da alma, num tempo sincopado nesta curva de pequenas elevações e algumas descidas.

Um dia somos extirpados de um mundo que, com muito esforço, ajudamos a construir. Um mundo no qual sofremos inúmeros arranhões, mas um mundo em que sentíamos ser o nosso mundo. O sofrimento que parecia ter sido tão intenso, que chegou a ferir, profundamente, que deixou raízes corroendo o âmago mais âmago que um ser pode ter, desvanece-se como desvanecem-se as pegadas do tempo.

Então percebemos outra vez a beleza que é o som do trinar dos passarinhos. Ouve-se a sabiá a anunciar a nova estação. Há tempo para o êxtase em cada nascer de lua, mesmo que não seja cheia. Há o deslumbramento com as cores crepusculares que antecedem o surgimento do sol em cada manhã ou a sua despedida atrás dos bosques que nos circundam além dos horizontes azuis. Encantamo-nos com o aguaceiro que, em cascatas, despenca do telhado ao lado da janela. Ou com a fina garoa que alivia as tensões das horas quentes do dia.

E é num tempo assim em que nos sentimos apenas como uma necessária, mas perdida vogal em meio às multidões que, de repente, após mais uma virada da terra em torno de si mesma, não apenas uma palavra amiga, mas uma infinidade delas chega para estimular mais ainda o nosso viver.

Foram muitas as emoções que me fizeram sorrir baixinho nestes últimos tempos. Foram muitas as emoções que molharam minhas faces de lágrimas quentes. Que fizeram aflorar em mim sentimentos até de vaidade, um capital pecado que eu não gostaria de demonstrar. Mas envaidecida eu me encontro.

Apresentação no sábado, 11, na Fundação Cultural Helmy Wendt Mayer/11.9.21/Fátima Santos

E em uma noite muito fria em que estrelas cantavam no infinito azul um garoto que eu conheci a solar seu violino passa-me uma poesia e pergunta-me se eu a conhecia. Eram os versos escritos por Irmã Maria Carolina Gross para o Hino do Instituto de Educação “Sagrado Coração de Jesus”.  E a melodia soou em minha mente. Lágrimas inundaram meu rosto. Desde os meus tempos do Sagrado Colégio por uma vez apenas, eu ouvira este hino. Foi quando o “Coral Santa Cecília”, tendo a Imortal Maria de Lourdes Brehmer como regente, apresentou-o no decorrer de uma Sessão Solene da Academia de Letras do Brasil – Canoinhas.

Lágrimas afloraram, túrgidas de emoção, ao ler a primeira linha. Horas depois passa-me uma gravação com a melodia. Em minhas mãos a letra e a música do primeiro Hino do nosso Sagrado Colégio.

Depois um telefonema. Com o pedido para escrever uns versos. Para o Hino do Centenário de nosso Sagrado Colégio. Aliando palavras às palavras da Mestra Irmã Carolina.

Poeta não sou. Embora digam que poemas escrevo. Mas fazer versos, com rima e ritmo, como um hino, que seja um hino, requer, era algo jamais pensado em minha vida.

Membros do Coral Santa Cecília/Fátima Santos

Mas Matheus Prust acreditou. Quando dei por mim já prometera escrever.

E então o mundo veio abaixo. Como prometi escrever algo que não está em mim?

Acordava na madrugada em pânico. Sonhos em nebulosa. E a melodia com os versos de Irmã Carolina em minha mente.

Pedi aos deuses do Olimpo que me inspirassem. Implorei à poetisa que é Patrona de minha cadeira na Academia de Letras, Isis Maria Tack Baukat, que me ajudasse.

E então os versos foram saindo. Enviei ao nosso músico Matheus que elaborou a orquestração, arrebanhou músicos e cantores, promoveu a gravação, disseminou letra e música a muitos interessados.  

Que foi pomposamente apresentado pelo Coral Santa Cecília, na noite do sábado, 11 de setembro passado, no saguão do Museu “Orty de Magalhães Machado”, da Fundação Cultural “Helmy Wendt Mayer”, como parte da cerimônia de abertura da Exposição Histórica “Canta um Hino de Orgulho bem Alto: Memória e Presente da Música em Canoinhas”.

Foi uma noite muito especial. Com o nosso magnífico Coral Canoinhense apresentando outras melodias de seu incrível repertório. Ouvimos ainda uma gravação inédita para nós. A música “Carinhoso”, de Pixinguinha, pela pianista Helmy Wendt Mayer.

Matheus Theodorovicz Prust fez o lançamento também da gravação do Hino do Centenário do Colégio Sagrado Coração de Jesus, gravação esta realizada por músicos e cantores de Curitiba, tendo como solista a soprano Márcia Kaiser.

Visitar aquele acervo colecionado em minúcias por Matheus Prust a fim de montar a história da música e dos músicos de nossa terra foi passear por um mundo que já fez marejar os olhos de tantos. Visitar aquelas salas com instrumentos musicais, partituras, documentos de uma era em que Canoinhas mergulhava em melodias.

A noite foi curta para relembrar todos aqueles momentos e em expectativa pelas emoções que me aguardavam no dia seguinte.

O 12 de setembro, dia do aniversário de nossa terra amanheceu esplêndido. E sob um céu azul intenso com o sol a brilhar em todos os quadrantes assistimos à inauguração do Complexo Turístico e Cultural de Marcílio Dias. Ver de perto aquelas velhas construções restauradas, inteiras, fez brotar dentro de mim suspiros de felicidades sequer pensados há alguns anos.

Momento da inauguração do complexo/Divulgação

Tive ímpetos de subir a rampa de acesso à plataforma da estação para contar a todas as pessoas de minha vila como eram maravilhosos os tempos em que comboios ali em frente circulavam diuturnamente.

Contar para o mundo ali presente como foi a chegada de meus Nonnos até a então Colônia São Bernardo.

Contar que chegaram num vagão que era a sua morada no decorrer de uma grande viagem encetada muitos meses antes. Que naquele vagão havia uma cozinha na qual minha Nonna Thereza Cailoto Gobbi preparava as refeições para as turmas de operários que colocavam dormentes e trilhos no decorrer da construção daquela ferrovia.

Contar que na chegada à nossa vila meus Nonnos foram convidados a lá permanecer, construir, montar e dirigir um restaurante ao lado da estação férrea. Um restaurante que servisse refeições aos passageiros e ferroviários dos trens que por ali circulariam.

Mostrar a arquitetura do velho restaurante agora restaurado. Pedir que todos percebessem o seu peculiar estilo. Estilo das moradias das campanhas do norte da Itália, da terra de onde meus Nonnos vieram.

Doze de setembro marca agora mais um fato histórico para a vila de Marcílio Dias.

Depois de, por anos, acompanharmos a deterioração do velho restaurante, do armazém e da estação ferroviária tive a emoção de contemplá-los agora a brilhar, novamente, como em seus áureos tempos.

Entrar naquele prédio construído por meus Nonnos Pedro e Thereza Gobbi e deslizar pelo espaço que compreendia o grande salão de refeições, a antiga cozinha, o bar e o café

Deitar meus braços sobre o velho balcão onde se servia o café com os mais deliciosos pastéis de que se tem notícia.

Degrau por degrau subir a escada que leva à parte superior e deslumbrar-me com o que de cima se descortina. Naquele instante vi as paisagens do passado.

Entrar pela sala de visitas da estação ferroviária. Não, eu não me lembro de quando morei lá. Mas foi lá que eu nasci.

Ver a felicidade das pessoas de minha vila.

Ouvir meus sobrinhos a relembrarem sua infância a correr e a brincar em torno de todas aquelas construções.

Antes eu chorava de tristeza ao ver tudo aquilo abandonado, deteriorando-se dia a dia.

Em 12 de setembro chorei de emoção e alegria ao ver a magnificência de um artístico e arquitetônico restauro.

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