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O dia depois da Et Pater Filium

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Achar que a operação por si só já definiu o jogo e que a base eleitoral que possuem já dá conta de vencer o pleito, constituiria um dos maiores erros a serem cometidos

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Como já é de conhecimento geral, Canoinhas este ano, para além da tradicional eleição que envolve a escolha para presidente, governador, deputados e senadores, contará ainda, com uma eleição suplementar para prefeito e vice, decorrente das prisões dos anteriores na sétima fase da operação Et Pater filium. Tendo em conta este fato, já começam a circular nos jornais da região e nas redes sociais os nomes de alguns possíveis candidatos ao cargo, dentre os quais se sobressaem o nome do atual prefeito em exercício, Willian Godoy (PSD), da vereadora da oposição, Juliana Maciel (PSDB), e por fim, do advogado Ivan Krauss (Progressistas). Na coluna de hoje, pretendo analisar brevemente o perfil de cada um, buscando traçar a partir de uma análise conjuntural, as chances que possuem e os desafios que enfrentarão nessa disputa.

Willian Godoy durante entrevista coletiva

Começando pelo atual prefeito em exercício, Willian Godoy. Antes de chegar à vereança, ele era conhecido pelo expressivo trabalho social que desenvolvia (e ainda desenvolve) nos mais diversos meios da comunidade, trabalho este que foi um fator decisivo para sua eleição, já que na votação daquele ano (2020), muitos dos eleitores escolheram seus candidatos a partir dos seus antecedentes e, neste sentido, ganhava quem tinha bom currículo no espaço do social. Willian Godoy possuía esse currículo. Em sua campanha, enfatizava ainda a novidade e a independência que teria em seu mandato de vereador se fosse eleito, discurso que certamente deve ter lhe legado mais alguns votos. No entanto, eleito vereador, cometeu um erro crasso, do qual colhe frutos amargos até hoje. Tal erro residiu precisamente, na sua aliança de corpo e alma aos atualmente presos Beto Passos e Renato Pike.

Com efeito, tal aliança não só o fez uma figura não muito bem quista em alguns momentos de seu mandato (tendo em vista que, estando na base governista, precisou defender muitas pautas impopulares do governo) como também destruiu o seu discurso de independência e novidade (muito mais fácil de manter ou sustentar se você é da oposição ou independente), fazendo com que se tornasse mais um político tradicional como tantos outros e decepcionando uma parcela de seu eleitorado.

Com o desencadear da sétima fase da operação Et Pater Filium, Godoy teve a desafiante tarefa de assumir a prefeitura, onde, sejamos justos, é perceptível o seu esforço de tentar colocar ordem na casa, contudo, o fato de até um dia antes da operação ter estado na base governista (mesmo com todas as suspeitas que já se colocavam sobre Beto e Pike) fez com que sua pessoa fosse vista com desconfiança por muitos dos munícipes. É evidente que ele tentou (e tenta) se desfazer dessa imagem, no entanto, tal iniciativa surte pouco efeito. Contribuiu para isso, sua condenação pouco enfática a respeito de tudo o que aconteceu e ações que dessem mostras mais claras dessa condenação para a população, como uma renovação total do secretariado, por exemplo.

Dito isto, cabe frisar aqui que Godoy chega à disputa pelo cargo de prefeito com uma grande vantagem e uma enorme desvantagem. A grande vantagem consiste em já ter a prefeitura nas mãos, e contar, com a chance ímpar de mostrar o que pretende fazer e continuar fazendo se alçado definitivamente a tal posto. A enorme desvantagem está no prejuízo causado a sua imagem pelo já referido vínculo que manteve com Passos e  Pike -vínculo este o qual com toda certeza será amplamente explorado pela oposição durante a campanha e cujo desfazimento se faz hoje um de seus maiores desafios.

Vereadora Juliana Maciel/Moisés Gonçalves/Divulgação

Juliana Maciel, por seu turno, tal como Godoy, foi mais uma que chegou à vereança em função do trabalho prévio que desempenhou na sociedade, especialmente quando esteve à frente do Procon, onde sempre se mostrou muito proativa no atendimento das demandas que lhe chegavam. Com um discurso centrado principalmente na função de fiscalizador do vereador, Juliana aliou-se aos também vereadores Marcos Homer (Podemos), Tatiane Carvalho (MDB) e Zenilda Lemos (MDB), constituindo assim, uma oposição combativa como há muito não se via na Câmara de Vereadores.

Este estilo combativo, aliado a uma presença enfática dos quatro nas ruas, atendendo as mais diversas reivindicações, não tardou a chamar a atenção de uma parcela da população, que enxergou ali uma prática política diferenciada. É verdade que os quatro acumularam derrotas em série na Câmara, tais derrotas, no entanto, longe de derrubar, apenas fortaleciam a imagem de oposição que eles almejaram construir.

A grande consagração, porém, veio com a sétima fase da Et Pater Filium, que, tão logo eclodiu, procuraram capitalizar politicamente, numa manobra que, a levar em conta o que se vê e lê nas redes sociais, veio e vem dando certo. Não à toa, assim que começaram os burburinhos sobre novas eleições, os quatro vereadores foram prontamente lembrados. Diante dessa conjuntura, o nome de Juliana acabou despontando como o mais popular.

Entretanto, Juliana Maciel também acumula uma série de desafios a serem enfrentados. O primeiro deles, diz respeito ao embate interno que enfrenta com relação a definição da própria candidatura. O melhor cenário para a oposição hoje é Juliana como cabeça de chapa e Zenilda Lemos como vice, todavia, o MDB de Zenilda resiste a ceder o cargo principal (de prefeito), preferindo Zenilda como candidata a este posto. Essa disputa interna, se não for bem resolvida, pode colocar a perder tudo o que os quatro erigiram até aqui.

Além disso, é importante observar que, embora possua uma presença forte nas redes sociais e no meio urbano, Juliana precisará transcender estes espaços se quiser a vitória. Isso envolve a conquista de votos de eleitores que se encontram em domínios que até pouco tempo atrás eram consideravelmente pró-Passos, tal como as regiões do interior. Achar que a Et Pater Filium por si só já definiu o jogo e que a base eleitoral que possuem já dá conta de vencer o pleito, constituiria um dos maiores erros a serem cometidos.

Por fim, um último desafio está na apresentação de propostas que sejam inovadoras e ao mesmo tempo possíveis de serem aplicadas num curto espaço de tempo. Na hipótese de um eventual ganho, se forem ambiciosos demais, a popularidade conquistada pode prontamente despencar, sobretudo se a expectativa for alta e as propostas não se concretizarem. Cumpre lembrar que nesta situação, a base governista converte-se em oposição e passa a ser maioria, e ela pode muito bem “vingar-se” atravancando e/ou barrando projetos. O “como fazer?” se faz aqui uma das questões principais.

Ivan Krauss/Facebook/Reprodução

Ivan Krauss, dentre os três candidatos até aqui citados, é aquele do qual menos tenho conhecimento. Sua trajetória me era desconhecida até as eleições passadas, quando apareceu como o “candidato a prefeito bolsonarista”, numa tentativa de surfar na onda conservadora, que por aquela altura, mostrava-se já bastante fragilizada. Este ano provavelmente tentará repetir o feito, levando em conta que o bolsonarismo estará mais ativo na região.

Contudo, ele precisará ir muito além do discurso “Deus, Pátria e Família” se quiser a cadeira do executivo municipal, até porque, em eleições municipais, o discurso ideológico não costuma ser um fator de peso na escolha dos eleitores, que tendem a ser mais pragmáticos e levar em conta questões de ordem local.

É certo que a base bolsonarista mais radical da cidade pode lhe garantir um bom número de votos, mas é preciso ir muito além se quiser ganhar de fato, principalmente numa circunstância em que Godoy conta com a prefeitura e a máquina pública em suas mãos, e Juliana com os frutos colhidos da operação Et Pater Filium e da oposição ferrenha ao governo Passos.

***

Notoriamente, o cenário descrito até aqui é apenas uma pequena fotografia de uma paisagem muito maior que ainda está para se delinear. Muitos outros nomes podem entrar na jogada, bem como novos fatos que embaralhem todas as cartas, surgir. Em política, a análise feita hoje pode se desfazer em questão de segundos no dia de amanhã. Independentemente do que venha a acontecer e de quem seja o ganhador, destaco aqui a tarefa que compete a nós eleitores em qualquer cenário com qualquer político: a de questionar e cobrar sempre. Talvez resida do nosso lado o motor principal da mudança que tanto desejamos.

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