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O caso Genivaldo como espelho da relação entre Bolsonaro e PRF

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Frase de Jair Bolsonaro reflete diretamente o Brasil em que vivemos atualmente

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“Não podemos generalizar tudo o que acontece no Brasil. A PRF faz um trabalho excepcional para todos nós. A justiça vai decidir esse caso. Tenho certeza que será feita a justiça e todos nós queremos isso aí. Sem exageros e pressão por parte da mídia que sempre tem um lado, o lado da bandidagem”.

Jair Messias Bolsonaro, presidente do Brasil

Queria poder estar nessa coluna de hoje falando sobre a política de preços da Petrobras, as questões envolvendo alguma denúncia no meio político ou sobre os desdobramentos da eleição que se aproxima. Porém infelizmente a gente não pode se calar e deixar passar batida a situação em que um cidadão brasileiro, que perante a Constituição Federal tem os mesmos direitos que eu e você que está aqui lendo esse texto, foi submetido.

Genivaldo de Jesus Santos, um homem negro, de 38 anos, diagnosticado com esquizofrenia, foi morto em 25 de maio no município de Umbaúba, no Sergipe.

Alguns de vocês pode estar se perguntando, o que a morte de Genivaldo tem a ver com política? Ao assistir a cena, percebemos que tudo. O homem foi abordado em uma blitz da PRF na BR-101, sendo parado pela falta de utilização de um dos equipamentos de segurança mais importantes, o capacete. Até aí, nada de errado no trabalho realizado.

Porém, as cenas que vieram após, são complexas e difíceis até o momento de serem transcritas nessa coluna. Genivaldo, após relutar a abordagem dos policiais, foi colocado no porta-malas do carro da PRF, junto dele uma bomba de gás, que foi acionada pelas mãos de um dos policiais. A porta abaixada, os pés do homem para fora se contorcendo, ao som dos gritos e pedidos de socorro, a fumaça sai pelas bordas do carro.

Segundo laudo do IML, Genivaldo morreu em decorrência de asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda.

Quando assistirmos as cenas torna-se impossível não fazer uma ligação direta com um dos momentos mais terríveis já vividos na história do mundo, o holocausto e as suas câmeras de gás que ceifaram a vida de centenas de milhares de judeus.

Escolhi começar essa coluna com a frase dita pelo presidente Jair Bolsonaro sobre o caso, pois ela reflete diretamente o Brasil em que vivemos atualmente.

O primeiro ponto a ser observado é que para Bolsonaro em toda a sua vida pública, uma das frases mais ditas é a de que “bandido bom é bandido morto”. Genivaldo não era “bandido” por estar andando sem capacete, tal qual Bolsonaro afirmou quando disse que “[…] parte da mídia que sempre tem um lado, o lado da bandidagem”.

Se fosse assim, poderiamos considerar ele mesmo, Jair Bolsonaro, como errado, pois em quase todas as “motociatas”, que são pagas com dinheiro público, ou ele está sem capacete ou utilizando um modelo que passa longe de ser o obrigatório pela lei.

O segundo ponto diz respeito a ela, a Lei. Desde que assumiu como presidente da República, Bolsonaro sentou em cima das leis brasileiras trabalhando apenas com aquilo que lhe convém. A situação piora mais quando observamos a relação entre as polícias e o governo federal.

Para exemplificarmos essa situação basta lembramos da reunião ministerial de 2020, quando Bolsonaro esbravejou que faria trocas nos comandos da Polícia Federal para proteger a sua família, que naquele momento começava a ser atingida pelos casos das rachadinhas e os possíveis envolvimentos com a morte da vereadora Marieli Franco.

A relação entre o presidente e as forças policiais vive desde o início de seu governo, de altos e baixos. Porém é preciso lembrar que em setembro de 2021, policiais, principalmente da reserva, foram um dos principais pontos de apoio para as manifestações em apoio ao presidente.

Quem explica melhor essa ligação entre presidente e polícia é Guaracy Mingardi, ex-investigador e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em uma entrevista a BBC News Brasil, publicada em 7 de setembro de 2021.

“O Bolsonaro é um adepto do uso da força, da violência. E com esse argumento ele justifica as ações que levam polícias a matar. Isso faz com que alguns deles o apoiem e influenciem outros. Além de que normalmente policiais, no mundo inteiro, são mais conservadores que a média da população.”

Ao observar os fatos, percebemos que a relação entre eles pode ser meio complexa, mas foi Bolsonaro foi quem concedeu legitimidade para ações como essa acontecerem. E não somente essa, como tantas outras que possuem as digitais da polícia, como a chacina que ocorreu recentemente em comunidade do Rio de Janeiro.

De outro lado, como numa espécie de troca de favores, coube às polícias, não a todos, mas a uma parcela, o fechar dos olhos para todas as infrações cometidas pelo presidente e seus apoiadores, nas motociatas espalhadas pelo País.

Coincidência ou não, a história no caso de Genivaldo se repetiu de forma horrenda, no mesmo dia 25, só que dois anos atrás outro negro foi assassinado, era George Floyd. Dois homens, cidadãos com direitos, negros, pobres e que foram mortos em situações degradantes por policiais brancos.

O momento que o Brasil vive mostra como muito se errou e como o futuro poderá ser obscuro. Porém não pode-se deixar que o País torne-se um lugar sem leis.

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