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sábado, 22

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O canto maior

Imagem:Freepik

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Agora é a hora de sentar-me no espaço a tua espera

Meu amigo-irmão, soubeste compreender há tanto tempo a inutilidade das coisas que enfeitam a matéria que nos rodeia neste mundo que é tão apenas de provas e expiações.

Fico pensando no imenso trabalho que tiveste, lá no Alto, tentando fazer-me sentir as vibrações que enviavas. Sempre atada, como ainda atada estou, nada eu captava. Por séculos, talvez, não sei.

E houve recados, que, delicadamente eu recebia. E arquivava nos recantos mais secretos do meu ser. Eu não poderia saber que vinham de ti. Eu não te conhecia. E deste belo mundo onde vives eu nada sabia também.

Às minhas mãos chegavam muitos livros que de outra vida falavam. Livros que, delicadamente, eu recebia e encaixotava. Sem deles sequer uma página tocar. Ficaram empoeirados no fundo de um baú. Onde eu jamais colocava as minhas mãos.

Depois ao perguntarem a minha opinião sobre eles apenas explicava que andava muito atarefada e que o tempo que eu tinha para ler eu precisava dedicar para a leitura de artigos científicos, literatura médica para melhor atender meus pacientes…

Ω

Agora é a hora de sentar-me no espaço a tua espera.

Sei que é difícil a tua vinda até aqui.

Assim como eu sei também que o meu peso me prende e me amarra onde estou.

A saudade é grande, imensa, ilimitada, assim como toda a saudade o é. Conseguiste vencer e subir. E eu fiquei na distância, sem ver teu vulto, sem sentir tua presença, sem de ti nada saber. Apenas sei que existes.

Agora eu procuro o espaço, as nuvens, a aurora… o infinito… para tentar sentir tua presença, tua força, a energia que de ti emana. Mas a minha busca é falha, minha procura é falha. Limito-me nas coisas-terra que me rodeiam. Não posso sequer te dizer que tento, que sempre estou tentando. Porque sabes que não é verdade.

Sabes que miríades de pensamentos pululam em minha mente. Tu sabes. Eis o empecilho maior. Esta é a minha limitação. Eu não tenho desculpas, tu sabes. Porque eu poderia tentar múltiplas vezes sentar-me numa branca nuvem lá do espaço e lá ficar a tua espera.

Eu sei que poderia, mas nem tento.

Estes turbilhões de dardos agitados parecendo movimentação de elétrons dentro de seu átomo não permitem a elevação que em vão eu quero.

Digo quero, apenas, porque apenas quero e nada tento.

Ω

Foi assim que chegaste naquela noite de muito temporal. De leve. Imperceptível, como a sombra apagada dentro da noite sem luz. Apenas o ruído da água caindo e ali apareceste.

E ao lado permaneceste. Uma poça de água a escorrer no chão. E o clarão do olhar que de ti emanava era mais forte que o clarão dos relâmpagos que eu via lá fora. Chegaste assim naquela noite de intenso temporal. Quieto. Encharcado de água. E encharcado de amor.

Eu sabia que virias. Há muito eu já sabia. Mas eu não me lembrava de ti.

Eu sempre soube que trarias para o meu esquecido canto o canto maior. E a tua presença encharcada de amor numa noite de chuva foi o alento maior de um sonho acordado.

Falaste que as nuvens também passam. Fez-me lembrar que também havia sol. Fez-me lembrar dos sons já há muito esquecidos e guardados nos lugares mais remotos da memória.

Fez com que eu ouvisse dentro de uma noite escura o trinar de passarinhos. E os acordes de orquestras celestiais. Teu olhar era um farol que inundava as trevas. E a tua voz era suave ao falar dos raios luminosos dos sóis de todos os mundos.

E comigo ficaste para sempre.

Ficaste mesmo depois que novas trevas envolveram teu manto e a tua imagem foi diminuindo na distância.

Ficaste na esperança aqui plantada.

Num sorriso renascido.

Na lágrima remota que já não existe mais.

Reminiscências escritas na década de 70 do século XX

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