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“Lá fora sempre é melhor”: Nada mais equivocado

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O que diferencia a região de Canoinhas da França são as estradas

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Com a surreal guerra europeia (em pleno 2022!!!), a agenda ambiental do governo Bolsonaro achou a desculpa perfeita para tentar passar, literalmente “goela abaixo”, todas as propostas de afrouxamento das leis ambientais do país. E, na maioria das entrevistas, os defensores de tais medidas costumam citar como “lá fora” tudo é muito mais fácil para o produtor. Na verdade, isso passa longe de ser verdade.

Há três anos tive o privilégio de participar de um Congresso na França e dessa forma, realizar algumas viagens técnicas pelo meio rural daquele país. E, para minha surpresa, a primeira impressão que tive foi: “Como se parece com a minha região!!!”. Diversas fotos parecem ter sido tiradas em propriedades rurais aqui de Canoinhas, Irineópolis ou Porto União. E, lembrem, nossa região é uma das mais bem preservadas do Sul (graças aos nossos ervais nativos e caívas).

As propriedades de lá impressionam pela quantidade de áreas florestadas, muito superior ao que eu imaginava, especialmente, quando ouvia os críticos da legislação ambiental brasileira dizendo que “lá fora as exigências são muito menores”. Conversando com agricultores e técnicos comprovei que, na Europa de um modo geral, isso é bem ao contrário. Algo que me chamou muito a atenção também, foi que o respeito à legislação de uso do solo é muito mais rigoroso que no Brasil. O solo deles é muito diferente do nosso, o que não significa que é melhor. Temos solos fantásticos aqui. O que nos falta muitas vezes é valorizá-los suficientemente.

Mesmo nas regiões agrícolas, como às próximas a Paris, que são absurdamente planas, há muitas áreas com vegetação arbórea distribuídas na paisagem. Na região do Norte, próximo à Inglaterra, as áreas de pasto são lindíssimas (a maioria é cultivo de azevém), e nas estações quentes, que permitem pastejo, o gado é manejado em pastejo rotacionado. Outra cultura que não falta na França é a uva! Parreirais imensos e contínuos nas áreas menos planas e nas declivosas, todos em plantio em nível.

Outra característica que me chamou atenção é a quantidade de organizações de agricultores! Praticamente, em todas os vilarejos que visitei havia a sede de uma ou mais cooperativas e associações locais! Todas bem identificadas! Muito legal.

E, a coisa que mais me causou uma certa “inveja” em relação ao meio rural deles foram as estradas: são todas asfaltadas! Um sonho! Pequenas estradas vicinais, que mal passam dois carros, todas asfaltadas até o acesso às propriedades! Isso sim, uma política pública que nossos municípios, essencialmente agrícolas precisam evoluir muito. Sem dúvida, a organização dos produtores é um elemento que contribuiu para essas políticas.

Mas, de um modo geral, fiquei muito feliz de verificar com os próprios olhos como nossa agricultura catarinense e brasileira está bem equiparada à agricultura europeia em relação aos sistemas de produção. Somos um país exemplar neste setor, e isso se deve muito às nossas políticas públicas de pesquisa, extensão rural e crédito nas últimas décadas e, principalmente, às nossas famílias do meio rural, agricultores e agricultoras que de sol a sol, todos os dias do ano, contribuem para estarmos entre os melhores do mundo na produção agropecuária! E conseguimos fazer isso respeitando leis ambientais até 2018. Não vejo porque precisamos piorar isso agora. Há avanços que não devem ser recuados, pois o prejuízo é de toda a sociedade, mas é, em especial do produtor rural, que sem solo, sem água, sem árvores, não existe mais.

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