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quinta-feira, 6

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Incautas aves nas garras dos felinos

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Fragmentos de segundos impediram que se consumasse a grande tragédia em uma radiosa manhã

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Em meio à borbulhante cidade havia uma casa rodeada de árvores frondosas onde pássaros de todas as espécies faziam seus ninhos, faziam suas festas.

No iniciar da primavera e nas estações que a sucediam antes que o frio retornasse a congelar a grama, era um chilreio só. Felizes as pequenas aves deslumbravam o espaço com suas inebriantes cores e em seus maviosos sons.

Em certa manhã radiosa, de sol esplendente a infiltrar-se pelos ramos e folhas do arvoredo uma andorinha muito jovem, tão pequenina que mal havia sido coberta pelas primeiras plumagens acordou deslumbrada com aquela luz dourada.

Inexperiente, imaginou-se a voar em direção aquele extasiante dourado. Espreguiçou-se.  Esticou suas pequenas asas. Experimentou as finas perninhas para dar o impulso inicial. Olhou para os demais filhotes com a mamãe no ninho. Olhou para os demais galhos com centenas de silenciosos outros ninhos.

Deu o impulso necessário com seus minúsculos pés, abriu as asas e atirou-se no desconhecido espaço azul carregado de laivos dourados.

Fragmentos de segundos impediram que se consumasse a grande tragédia em uma radiosa manhã.

O temível felino negro como a noite sem luar, com riscas amareladas em seu torso, em silêncio sepulcral, agachado por perto se encontrava. O salto acrobático foi em curva a fim de alcançar a avezinha em pleno voo. A sorte daquela andorinhzinha, ainda em fina e débil plumagem, foi não ter forças suficientes para executar a necessária curva parabólica. O felino deu com o nariz em um muro carregado de heras espinhentas. Imagine-se o urro que o gato deu. Talvez igual ou pior que aquele da história da dona Chica. A tal dona Chica que se assustou “com o berrô que o gato deu”.

Mas quem salvou mesmo a vida do filhotinho foi a mamãe andorinha. Mães jamais dormem. Estão sempre em vigília. Mal pressentiu a falta de seu bebê-ave no ninho, voou atrás. Alcançou-o antes que fosse ao solo. Agarrou-o com seus pés e levou-o de volta ao ninho-lar.

Foi a manhã ensolarada mais silenciosa no bosque que rodeia aquela casa.

Reuniram-se os membros da diretoria que comandava o grande grupo de aves daquele minúsculo território. Enviaram emissários aos vizinhos convidando-os para comparecerem a uma assembleia magna que seria realizada antes do crepúsculo daquele mesmo dia.

Os galhos do grande pinheiro europeu até se curvaram, pois jamais haviam comportado tantas aves reunidas.

Intensos debates em torno do atual e importante tema: “A defesa ante o ataque do Tigre de Bengala.”

O famigerado felino de tocaia era tão temível quanto o famoso grande parente dele. E tinha as mesmas faixas amarelas e pretas.

Cada família de aves tinha suas histórias para contar. Histórias que passaram de pio em pio e de bico em bico através dos tempos.

Sabiam que o inimigo era grumoso, rasteiro, tinha pés de veludo, parecia, às vezes, até invisível.

— E ele muda de roupa! — Dizia um canarinho do reino que vira o felino trajando um terno branco vistoso igual à roupa da dona da casa quando ia para o hospital.

— Aquele já é outro. — Afirmava a sábia coruja enquanto limpava seus óculos.

— Eu já vi aqui no entorno, no mínimo, uns cinco. Todos gordos. De tanto massacrar e comer nossos incautos irmãos de pena, — testemunhou, do alto de seu toco, o arquiteto João de Barro.

O sol escondia-se atrás das serras do Oeste. Era hora de retornarem aos seus ninhos e repousarem. A assembleia continuaria já ao raiar da manhã seguinte. As corujas prontificaram-se a permanecer de guarda. Combinaram entre elas um som em dó maior para o seu tradicional uuh uuh, caso o Tigre de Bengala e ou um de seus asseclas invadisse o sagrado território, que, por lei, só aos bípedes voadores pertencia.

Sim, só a eles pertencia. Porque a dona da casa não possuía nem felinos e nem caninos. Ouviram-na explicar a quem queria saber os porquês:

— Não tenho tempo para deles cuidar. Quem não tem tempo para cuidar de seus animais de estimação que não os tenha. — Afirmava ela aos seus amigos

Então, na manhã seguinte, reuniram-se as aves da redondeza no bosque atrás da casa da dona que não era dona nem de felinos e nem de caninos. Por isto as aves ali viviam felizes. Até aparecerem os tigres de bengala e seus asseclas que moravam nos arredores.

Cada representante de um dos blocos presentes tinha uma história para contar.

Uma tímida saracura que a custo conseguiu alojar-se em um dos galhos mais baixos relatou uma quase trágica história que ouvira de sua avó. Era um tempo em que haviam muitas saracuras brincando e vivendo por ali.

— Sumira o seu pequeno filhote. Ela vira o grande tigre de bengala abocanhá-lo e com ele sumir. Meio andava, meio voava na calçada em meio ao jardim e casa. Para frente e para trás. Desesperadamente a gritar o seu velho refrão três potes, um coco, um coco, três potes, um coco, um coco… Vira a dona da casa na janela assustada com os seus gritos.

 Foi então que apareceu no portão uma vizinha com o filhotinho da saracura nas mãos. Explicou que acabara de tirar da boca do bichano dela. A dona da nossa casa pegou o filhote e levou-o para dentro. Mas o pequenino era indócil. Correu pela casa toda. Era o filhote a gritar lá dentro e a mãe a gritar lá fora. Até que a dona conseguiu entregar a saracurazinha para a mãe. E todos ficaram felizes.

A velha andorinha, que já se sentia a senhora daquele espaço, lembrou a todos do tempo de uma grande estiagem que ficara nos anais da história dos bichos de pena daquele território.

Folhas secas. Nem orvalho havia para as aves dessedentarem-se. Então a dona deixava bacias com água para todos saciarem a sede e até poderem umedecer as ressecadas plumagens.

Foi então que uma velha sabiá lembrou-se de outro fato contado pelos seus maiores.

— Sabe, um dia apareceu um moço muito bonito com uma casinha diferente. A dona e o moço procuraram um bom lugar para colocá-la. Estudaram a distância da janela e das árvores até que decidiram por um local defronte à janela que, segundo meus avós, os felinos não conseguiriam alcançar. Primeiramente eu pensei que fosse uma gaiola diferente. Depois percebi que era algo bem diferente. Era uma casinha com cobertura, aberta dos lados e com um comedor e um bebedor. E lá ela colocava, todos os dias, água fresca e um variado alpiste para nós.

Se bem que os felinos estão sempre por ali a esperar que uma incauta ave erre o caminho e caia em suas bocas. Dizem que isto nunca aconteceu.

Os tigres de bengala só se aproveitam das aves distraídas que se confundem com as janelas de vidro em tom levemente fumê. Elas veem a própria imagem lá refletida e batem-se contra as vidraças, pois pensam ir ao encontro de seus pares.

De histórias em histórias e de fatos em fatos passaram o dia a montar estratégias com a finalidade de montar defesas ante as eternas ameaças de seus predadores.

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