quinta-feira, 25

de

abril

de

2024

ACESSE NO 

George deixa a Irlanda

Últimas Notícias

À medida que o tempo passava o pequeno George descobria o mundo em seu entorno

- Ads -

Liam Emple foi cultuado pelos seus companheiros de luta como um herói do movimento Irlanda Livre. O Conde de Sworth, em reconhecimento à sua luta pela libertação da Irlanda, fez questão de que Sinead e o pequeno George permanecem em seu castelo. Pressentia ser temporária a ausência de lucidez da viúva de um de seus mais aguerridos vassalos, seu companheiro de tantas caminhadas.

Realmente, aos poucos ela voltava a desempenhar suas antigas funções acrescidas de outras que ela mesmo se impunha no intuito de agradecer os benefícios recebidos do nobre cavaleiro de Sworth.

À medida que o tempo passava o pequeno George descobria o mundo em seu entorno. Correrias incessantes por todas as áreas a causar preocupações na criadagem que à procura dele perdia horas. Um peralta tão igual como tinha sido seu pai que percorria entusiasmado as planícies do Eire.

Dentro do castelo de Sworth havia pessoal a dedicar-se às mais variadas funções. Alguns artífices, à marcenaria, outros, à carpintaria. Havia exímios sapateiros e tecelões. Mas o que mais deixou George deslumbrado foi o serviço do velho Aindreas, um serralheiro que fazia as mais artísticas peças em ferro fundido. Daquele dia em diante a serralheria tornou-se o seu local preferido. Passava ali horas e horas a observar o meticuloso trabalho. Até tentava executar algum serviço. Mas não tinha idade para mexer no grande pedal que acionava a fornalha incandescente. Menos ainda para pegar as grandes tenazes com as quais o artífice prensava as peças de ferro que, submetidas ao calor de mais de quatrocentos graus centígrados, seriam moldadas.

À medida que George crescia o velho Aindreas permitia, aos poucos, que ele lhe alcançasse algum instrumento, que acionasse o grande pedal para insuflar ar na fornalha.

Mas não foi apenas a serralheria que fascinava George. Passava horas também junto do senhor Breandan, um mestre em selaria, a observá-lo executando sua perfeita arte na confecção de selas e arreios. Com o passar do tempo já desempenhava importantes funções naquela oficina.

Sinead continuava a fazer as tarefas domésticas com todo o carinho. Alimentava-se, no entanto, muito mal. Estava sempre indisposta. Inventava desculpas para não ofender as cozinheiras. Afirmava não ter resistido às suculentas maçãs no pomar e se fartara com elas. Outras desculpas mais sempre a inventar. Mas a senhora Abiageal percebia que a cada dia ela estava mais pálida, mais fraca. Simplesmente não comia porque perdera realmente o ânimo de viver. Quando a viam com falta de ar e lhe perguntavam o que estava acontecendo, esquivava-se com a desculpa de que havia subido, a correr, uma escada ou que carregara um objeto pesado, por isto a canseira. Uma tosse insidiosa e persistente não a deixava noite e dia. A fiel serva obrigou-se a falar com o Conde. Um médico foi chamado ao castelo para examiná-la. O coração de Sinead já batia desordenadamente. Aumentara desmesuradamente de tamanho. Um diagnóstico nada favorável seguido de um menear de cabeça e orientações para permanecer no leito em posição sentada. E a prescrição das gotas milagrosas do extrato de uma flor chamada Digitalis purpúrea, a conhecida dedaleira.

Mas a insuficiência cardíaca instalada já se encontrava em estado muito avançado. As gotas aliviaram um pouco a sua falta de ar. Os batimentos cardíacos tornaram-se mais brandos. Não era possível, no entanto, aumentar a dose da medicação pelo risco de sua toxicidade.

George tinha onze anos quando ficou sem sua mãezinha. Nos primeiros tempos andava perdido pela casa e pelos arredores. Não tinha mais para quem contar suas aventuras diurnas quando o véu da noite fazia com que todos se recolhessem a seus leitos. O velho Aindreas tentava consolá-lo a falar que ele ainda seria um grande serralheiro. Que o mundo estava, ainda, por inteiro, à sua frente. Abiageal mimava-o da forma como todas as cozinheiras do mundo mimam as crianças. Empanturrando-o com os mais deliciosos quitutes.

A crise na Irlanda perpetuava-se após a peste nas plantações de batatas. Escondidos, como sempre, reuniam-se os líderes do movimento revolucionário em busca de uma Irlanda livre.

Quando George completou dezesseis anos juntou suas coisas e algum dinheiro que conseguira em seu trabalho como serralheiro e partiu numa aventura, como dizia ele, mundo afora. Desembarcou em Liverpool imaginando que em poucos dias tomaria um navio rumo à América. Logo percebeu, no entanto, que as libras esterlinas que levava consigo não seriam suficientes para custear a passagem e os seus primeiros tempos no novo mundo. Apesar de sua intenção inicial ser a de procurar seus tios —que emigraram para os Estados Unidos logo que aquela famigerada praga tomou conta das plantações de batata dando início a uma iníqua fome que causara a morte de um milhão de habitantes—não queria depender deles para viver.

Foi então em busca de serviço. Aprendera vários ofícios com os mestres no castelo do Conde de Sworth. Imaginou que seria fácil encontrar trabalho. Mal percebiam, pelo seu modo de se expressar, que era um irlandês, com desdém, pelos ingleses, era olhado.

Decidiu deixar Liverpool e ir em busca de trabalho em aldeias menores, onde, imaginava ele, a intolerância por sua terra e sua gente seria menor. Logo que chegou em uma pequena vila, não muito distante, entrou em uma taberna a fim de tomar um copo de água. O verão naquele ano comportava-se como se estivessem em plena região equatorial.

— Vejo que está muito cansado e suado, meu jovem—foi falando, com jovialidade, o taberneiro.

— Sim, meu senhor, vim andando desde Liverpool com esta pesada mochila nas costas e estou realmente precisando descansar um pouco e matar a minha sede.

— Não querendo intrometer-me em sua vida, meu jovem, mas o que o traz a este nosso pequeno mundo?

— Estou em busca de trabalho.

—E o que um rapaz tão jovem sabe fazer? Acha que em sua idade conseguirá arranjar serviço?

— Sim, meu senhor, tenho os braços fortes e já sei fazer alguma coisa — falou George, arregaçando as mangas da camisa e exibindo seu bíceps — pois já tenho uma grande experiência em serralheria e alguma coisa de selaria. Se alguém precisar por aqui também poderá contar com os meus préstimos.

— Você está me dizendo que é serralheiro? Olha, meu rapaz já vários passaram por aqui tentando fazer uma bela placa para a minha taberna e até agora o que fizeram foi deixar um amontoado de ferro atrás de minha casa.

— Senhor…

— Oliver, Oliver Grant!

— Senhor Oliver eu imaginava trabalhar em uma serralheria, pois não porto comigo as ferramentas necessárias para executar tal mister. Ou ir atrás de alguém que as tenha para vender ou alugar…

— Nem se preocupe com isto. Tenho uma pequena oficina nos fundos da taberna com tudo o que precisar.

— Mesmo a fornalha a fim de tornar o ferro maleável para que dele eu possa fazer uma bela placa?

— Claro! Meu pai era serralheiro. E desde que ele se foi tenho deixado uns tontos a trabalhar nela. Mas não sabem fazer nada. Se o seu trabalho me agradar poderemos ser sócios até e você encherá esta aldeia com lindas peças ornamentais.

Nada mais precisava para George tirar a mochila das costas e de pronto ir com o senhor Oliver até os fundos da taberna.

Não teve sequer necessidade em procurar uma pousada. Ficou alojado no mesmo barracão onde se encontravam seus instrumentos de trabalho. Alimentar-se-ia na mesma mesa de seu sócio que prometeu cobrar-lhe um preço amigo.

(Outro trecho de um livro em elaboração)

- Ads -
Olá, gostaria de seguir o JMais no WhatsApp?
JMais no WhatsApp?