Adoniran Borba Fernandes falou pela primeira vez sobre prisão
Sobrinho do ex-vice-prefeito de Canoinhas, Renato Pike, o empresário Adoniran Borba Fernandes prestou depoimento na sexta-feira, 16, e negou todas as acusações imputadas contra ele pelo Ministério Público (MPSC) no âmbito da Operação Et Pater Filium. Foi a primeira vez que ele falou em juízo sobre as acusações que pesam contra ele.
Adoniran, Pike e os empresários do setor de transporte Ademar Soethe e Ilson Ravanello são os únicos réus desta fase da operação Et Pater Filium que não firmaram acordos de colaboração premiada com o Ministério Público (MPSC) justamente porque negam envolvimento no esquema. Portanto, são considerados réus não colaboradores e, por esse motivo, tiveram seus depoimentos marcados para a última tarde de depoimentos agendada pela Vara Criminal. Os depoimentos de mais de 50 testemunhas e réus aconteceram ao longo das duas últimas semanas.
Renato Pike seria o primeiro a depor, mas assim como das outras vezes, se reservou o direito de se manter calado. Apenas confirmou dados pessoais ao juiz que conduz o julgamento, dr Eduardo Veiga Vidal.
Adoniran falou por mais de uma hora e negou todos os crimes imputados a ele. “Nunca dei meu nome pra nada, nunca integrei organização criminosa, nunca lavei dinheiro pra ninguém, nunca tentei prejudicar alguma investigação, nunca tive esse tipo de atitude. Nego com toda a certeza”, começou.
Ao ser questionado pelo juiz do porquê de ter enviado uma foto ao tio Renato Pike, de Miguelangelo Hiera, em um restaurante da cidade, insinuando que poderia “apagar” o desafeto de Pike “aqui mesmo”, Adoniran disse que não se referia a Hiera, mas sim, a um policial militar que, supostamente, fazia a segurança de Hiera. Este policial, explicou Adoniran, tinha uma antiga rixa com ele.
“Eu tinha 22 anos, tive problema com esse PM em uma ocorrência na saída de uma boate. Eu estava com um amigo, na saída do baile, paramos para urinar e fomos abordados pelo policial. Eles espirraram gás de pimenta na gente e o meu amigo acabou ofendendo os policiais. Eu estava abaixado tirando o spray de pimenta dos olhos, quando o policial me deu um tapa, eu revidei, derrubei ele, não sabia o que fazer, eles me pegaram, me algemaram, me colocaram dentro da viatura e me levaram para a Delegacia. Me tiraram de dentro do carro, quatro policiais me bateram, achei que eu iria morrer. Depois disso, tive costela quebrada e traumatismo craniano, fui internado. Quando eu estava ensanguentado, ele (o policial) me chamou em um canto, me cuspiu na cara e disse que se o trouxesse pra Justiça, ele iria me perseguir. Chamei na Justiça, não deu em nada”, resumiu.
Ele disse que mandou a foto para Pike porque “estávamos indo para uma formatura, o policial chegou lá ( no restaurante) e me senti incomodado por isso. Tirei duas fotos dele e mandei para o meu tio, mas foi depois. Mandei pra ele porque o meu tio tinha influência na PM. Mandei para pegar no pé do meu tio, pra incomodar ele, dizendo que eu faria alguma coisa com o policial”, afirmou. Pike teria aconselhado o sobrinho apenas a denunciar o policial por fazer bico como segurança particular, segundo Adoniran.
LARANJA
Sobre Sidnei Teles, Adoniran assumiu que usou a documentação do funcionário como forma de burlar uma restrição que havia em seu nome. “Não usei o nome dele para lavar dinheiro ou pra formar quadrilha, usei o nome dele por uma precisão, pra poder trabalhar”, afirmou.
Por ter falecido, Teles teve extinta a ação contra ele.
TRANSPORTE
Os dois réus acusados de integrar organização criminosa para fraudar processos licitatórios do transporte escolar em Canoinhas foram os últimos a serem ouvidos.
Ilson Ravanello, da Bitur, disse que Canoinhas era conhecida há anos por ser muito fechada em relação ao transporte escolar. “Me meti nisso aí e me ferrei”, afirmou sobre a tentativa de vencer um processo licitatório na cidade. Para ele, ficou claro que havia algo errado e que a Santa Cruz era favorecida. “Não levei vantagem nenhuma”, afirmou negando ter ganhado qualquer bem de forma ilícita para desistir de participar de licitações. Ele acredita que teve sua empresa arrolada pelos delatores da Santa Cruz como uma forma de, ao envolver outra empresa no esquema, eles conseguiriam aliviar a própria participação na organização criminosa.
Ademar Soethe, por sua vez, contou que participou de licitação em Canoinhas a convite de Miguelangelo. Sobre receber alguma vantagem para desistir da licitação, ele confessou que pegou uma caminhonete que teria sido negociada por Miguelangelo junto a Pike. “Uma caminhonete batida, pelo amor de Deus”, afirmou. Ele contou que vendeu a caminhonete, depois, por valor bem menor ao que Pike teria atribuído ao veículo. “Nunca que teria entrado nesse licitação se soubesse dessa sujeirada. Muito arrependido de ter entrado. Sou pessoa idônea”, concluiu.
PRÓXIMOS PASSOS
O juiz deu prazo de cinco dias para pedidos de eventuais diligências. Expirado esse prazo, inicia o período para os advogados e MPSC apresentarem as alegações finais. A partir daí, o juiz criminal deve emitir a sentença.