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Esquema no transporte escolar teria rendido R$ 2 milhões a Beto e Pike, diz delator

Imagem:Arquivo

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“Éramos coagidos e cedemos”, diz proprietário da Transportes Santa Cruz

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Um esforço concentrado fez com que todos os réus colaboradores do anexo que investiga fraude e superfaturamento nos contratos do transporte escolar em Canoinhas entre os anos de 2017 e 2022 fossem ouvidos na segunda-feira, 12. Nesta sexta-feira, 16, a fase de depoimentos deve ser encerrada com a oitiva dos réus que não fizeram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público (MP).

No primeiro dia de depoimentos dos réus arrolados na fase que investiga os contratos existentes entre a Transportes e Fretamentos Santa Cruz e a Prefeitura de Canoinhas, o empresário Miguelangelo Hiera iniciou a jornada detalhando os fatos que o levaram a figurar como colaborador premiado junto ao Ministério Público. Foi ele quem denunciou o esquema que ficou conhecido como “escândalo do transporte escolar”, apenas um dos crimes apurados pela Operação Et Pater Filium.

Em seu depoimento, Hiera confirmou tudo o que já havia dito ao Ministério Público. Hiera contou que recebeu R$ 10 mil do empresário dono da Transportes e Fretamentos Santa Cruz, Wilson Osmar Dams, em dinheiro e outros quatro cheques do mesmo valor que deveriam ser repassados ao então vice-prefeito, Renato Pike. Dessa forma, Wilson queria assegurar que venceria o processo licitatório 16/2017, o primeiro do primeiro governo Passos/Pike. Hiera teria apenas três das 34 linhas de transporte escolar, segundo o acordo. Mais tarde, ao reivindicar as três linhas, Hiera disse que foi enxotado pelos Dams.

 Wilson Dams é acusado de, também, dar uma caminhonete Hilux a Ilson Ravanello, representante da Bitur Transportadora, para que não participasse de licitações em Canoinhas. A Bitur tem sede em Bituruna (PR), por isso a operação ter se estendido à cidade paranaense.

Em outra concorrência, já em 2020, Hiera contou que iria ganhar um veículo da Santa Cruz para facilitar a vitória da concorrente. Contudo, o acordo não foi cumprido e Hiera questionou Pike, motivo pelo qual, segundo Hiera, Pike o ameaçou. Ao MP, em depoimento do acordo dado em 2022, Hiera disse que Pike teria dito que, por ele, a mulher de Hiera “já seria viúva”. O empresário citou outra empresa que teria recebido uma Hilux para deixar o caminho livre para a Santa Cruz, a Soetur.

Hiera e Ademar Soethe, proprietário da Soetur Turismo, que teria sido trazido para Canoinhas de Itaiópolis para participar da licitação em Canoinhas, teriam recebido a princípio a oferta de R$ 400 mil para desistir de concorrer à licitação. A verba teria sido garantida por Pike através da Transportes e Fretamentos Santa Cruz e seria dividida entre Ademar, Hiera, Passos e Pike. Segundo Hiera, o dinheiro nunca apareceu, mas foi pago em uma caminhonete para Hiera e outra a Ademar. Hiera diz que devolveu o veículo, se desvinculando do esquema.

Com a saída da empresa de Hiera e da Soetur, o caminho ficou aberto para que a empresa da família Dams fosse vencedora da licitação.

Ele contou, ainda, que quando decidiu fazer delação premiada, no mesmo dia, Pike o procurou questionando se ele sabia sobre uma suposta operação do Gaeco em Canoinhas. Disse ainda que foi ameaçado por outras pessoas citadas na colaboração e que até hoje anda de carro blindado.

SANTA CRUZ

Sócio-proprietário da Santa Cruz, Rodrigo Dams, filho de Wilson, também colaborador premiado, confirmou algumas falas de Hiera e afirmou que o Santa Cruz pagava, via de regra, 7% do faturamento em licitações como propina. Afirmou que acertou R$ 200 mil com o proprietário da Bitur e que o valor foi parcelado. A propina era paga quase sempre a Renato Pike, segundo Rodrigo. Ele disse que se recorda de ter entregue o dinheiro apenas uma vez para Beto Passos.

“O único objetivo da Soetur e da Bitur era arrancar dinheiro nosso”, disse sobre as duas empresas que vieram para Canoinhas concorrer em licitações do transporte escolar. Afirmou, também, que Pike atrapalhava a fiscalização por parte da Secretaria de Educação com relação aos veículos usados no transporte. “Nos sentíamos acuados porque não estávamos com os ônibus 100% corretos”, disse ao justificar porque a empresa pagava propina a Pike e Passos.

Questionado sobre quanto Pike e Passos teriam faturado neste esquema, Rodrigo estimou em R$ 2 milhões. Os valores eram divididos meio a meio para cada um, segundo ele.

O delator destacou que desde 2023 a Santa Cruz se desvinculou do transporte escolar, mas segue no transporte público. Mas há, contudo, duas linhas acertadas para liquidar uma dívida de R$ 500 mil que seria referente a superfaturamento. Essas linhas escolares serão feitas até dia 20 de agosto, quando a dívida será liquidada. O JMais apurou que uma nova empresa já foi licitada para assumir as linhas.

Wilson Dams relatou que em 2016 Beto e Pike foram ajudados pela empresa para ganhar as eleições. Para comemorar eles embarcaram para uma pescaria de uma semana na divisa do Mato Grosso do Sul com São Paulo. Hiera, Pike e Passos estariam nessa pescaria. “Ficaram uma semana comemorando a vitória e fazendo uma divisão dos serviços. Quando eles assumiram a prefeitura teve licitação para o transporte escolar. Aí veio o boato que a Bitur viria para cá. Nós, com mais de 50 anos de serviços prestados, não queríamos perder (a licitação). Para não participar, o dono da Bitur queria uma caminhonete igual a minha. Durante a licitação, teve muito leva e traz e se chegou à conversa de fazermos um acordo com eles. Fui a Porto União e fiz um acerto para o dono da Bitur não participar da licitação: R$ 200 mil parcelados. No dia da licitação não apareceu ninguém, então pegamos o serviço. Tivemos de pagar 7,5% de comissão para o Beto e o Pike e assim foi todos os meses. Saía o pagamento da prefeitura, Pike pedia o dinheiro para o meu filho. Aí o Miguel (Hiera) pediu dois carros (para não participar das próximas licitações). Éramos coagidos e cedemos”, contou.

Wilson contou que “oferecemos uma linha para o Hiera, ele não quis. Bati na mesa e disse que a licitação era nossa e não iria ceder. Viramos praticamente inimigos.”

Hiera teria insistido em participar das licitações, inclusive trazendo a Soetur para a disputa, o que levou o Santa Cruz a ter de pagar propina de R$ 400 mil, dinheiro que a empresa teria captado via empréstimo bancário. “Ficamos com o valor que estava no edital, nem um real a mais, e eles desistiram da licitação. Eles (Hiera e Soethe) vieram só pra fazer o meio de campo para o Pike. A gente fica meio cego e não consegue reagir, e foi rolando isso até 2022, quando estourou essa bomba. E hoje estamos aí, sem crédito, sem moral na cidade, tachados de ladrões, sendo que nunca roubamos um real de ninguém, não tivemos nem um centavo de favorecimento em nenhum contrato. Erramos feio, e o nosso primeiro erro foi afastar um licitante.” Ele disse que pensa em fechar as portas da empresa.


O ADMINISTRADOR

Secretário de Administração do primeiro governo Passos/Pike, Diogo Seidel também confirmou tudo o que disse na colaboração premiada. Ele contou que de fato ouviu de Wilson Dams, certa vez na prefeitura, que uma licitação o teria custado uma Hilux.

Seidel, um dos mais detalhistas dos delatores, começou contando como entrou no governo, mesmo tendo sido secretário e trabalhado na campanha de Beto Faria (MDB). Voltou a contar que ganhou uma arma de fogo em uma rifa e que ganhou munições de Rodrigo Dams. Também relembrou os já célebres episódios em que os telefones celulares eram colocados na geladeira a fim de evitar grampos.

Pike, certa vez, pediu reequilíbrio econômico para a Santa Cruz. O valor chegava a R$ 900 mil, o que fez com que ele se desse conta de que teria um grande problema, já que os recursos na Educação estavam bastante apertados. Ele teria falado isso a Pike, e o então vice-prefeito disse que isso era problema dele. Ao falar o valor, contudo, Pike se assustou, mas manteve o valor com o adendo de pedir R$ 200 mil de propina para Rodrigo Dams, que teria ficado até “meio gago” ao saber da cobrança. “Crie um problema para vender a solução”, era uma frase comumente usada por Pike, segundo Seidel.

Seidel relatou como foi o dia em que Pike descobriu que o Gaeco estava monitorando os ônibus escolares. “Ele estava extremamente irritado”. Pike também sabia que carros descaracterizados estavam rondando a prefeitura. “Uma vez segui um desses carros, mas fui despistado”, contou.

Pike teria chamado Rodrigo e sugerido que ele procurasse o Ministério Público para dizer que estava sofrendo constrangimento com o trabalho que o Gaeco vinha fazendo de monitoramento dos ônibus.



BETO PASSOS

O ex-prefeito Beto Passos foi bastante sucinto no seu relato. Disse que foi convidado para uma janta na casa de Miguelangelo Hiera assim que foi eleito em 2016 e que neste jantar estava, também, Wilson e Rodrigo Dams. “Debateu-se nessa janta a questão do transporte escolar. Miguel disse que queria trabalhar com o transporte escolar, o que deixou os Dams assustados. Começou ali uma tratativa para que uma parte dos serviços fosse prestada pelo senhor Miguel e que, do fruto desse negócio espúrio, nós receberíamos propina correspondente de 7 a 10%. E assim foi. Mas para o seu Miguel, o acordo não tinha dado certo. Me recordo de ter recebido em mãos, pelo menos uma vez, o valor da propina das mãos do Rodrigo Dams. Nas demais vezes, quem recebeu foi o senhor Renato Pike”.

Ele confirmou que Miguelangelo foi atrás de uma empresa para atrapalhar as licitações e disse que recebia de R$ 10 a R$ 12 mil de propina mensalmente.

“Pike queria exercer o papel de prefeito e muita gente tinha medo dele. Tivemos muitos embates e discussões”, respondeu ao ser questionado sobre sua relação com o então vice-prefeito.

Para Passos, ao Hiera trazer uma empresa de fora para participar de processo licitatório em Canoinhas, ele apenas queria tirar dinheiro da família Dams. Pike relatou a Passos que tinha feito uma besteira ao dar uma caminhonete para Hiera, segundo o ex-prefeito.

“Rompi com Miguelangelo porque a todo o momento ele me ligava querendo que eu fizesse coisa errada”, afirmou.

Passos contou que, em determinado dia, antes das prisões, Pike disse a ele que no dia seguinte eles seriam presos. Por isso, precisariam sair da cidade. Foi quando foram passar a noite em Curitiba. Passos disse que suas desavenças com Pike começaram logo no primeiro ano de governo. Pike teria se intrometido em várias questões que envolviam o prefeito. Segundo Passos, o ex-vice-prefeito mandava recados por terceiros de que queria ter o controle de tudo, senão, provocaria a queda de Passos usando o fato de ter maioria dos vereadores na Câmara.

“Trabalhei uma vida toda pautado na honestidade e quando aconteceu todo esse episódio eu já tinha um arrependimento muito grande de eu ter me metido nessa situação. Fiz a colaboração como uma forma de mostrar a população o meu arrependimento”, concluiu.


PRÓXIMOS PASSOS

Nesta sexta-feira, 16, serão prestados os últimos depoimentos dessa fase da investigação. Serão ouvidos os réus que não são colaboradores. Há a expectativa com relação a Renato Pike, que até agora se recusou a falar. Além dele, devem ser ouvidos seu sobrinho, Adoniran Borba Fernandes, e os empresários Ilson Ravanello e Ademar Soethe.

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