Pergunta, de resposta óbvia, sempre cabe em um encerramento de ano letivo
COLUNA DE DOMINGO Se você é pai de criança em idade escolar sabe bem o que significa o termo “progressão automática” e, imagino, possa até ter se sentido aliviado por ela existir quando seu filho não conseguiu alcançar o restante da turma nas médias de fim de ano.
Pela lógica, quem aprendeu ao longo do ano deve passar de ano. Quem não, fica. Era assim quando eu estudava e, por mais que fosse um modelo falho, acho improvável que tapar o sol com a peneira, como se faz com a progressão automática, seja a melhor opção.
Tampouco acho que fazer o aluno repetir de ano seja a melhor forma de lidar com a situação. Se não aprendeu em um ano, seja por fatores cognitivos ou comportamentais, creio que pouco mudará algo com a repetição de ano. Por isso, acredito mais em ações imediatas assim que o professor detecta dificuldade em determinado aluno. Aulas de reforço, apoio psicológico e a chamada de atenção instantânea dos pais me parecem medidas que podem reverter a tragédia anunciada no fim do ano.
Nos Estados Unidos, as mesmas controvérsias existem. Alguns Estados reprovam, outros não. Pesquisas comparando o impacto de uma com a outra alternativa mostram resultados equivalentes aos já encontrados pelo mundo afora, desde décadas atrás. Ou seja, poucas novidades. Basicamente, a nova revisão da literatura técnica mostrou, novamente, que promover quem não sabe é melhor do que fazê-lo repetir o ano. Foi provado que, os repetentes têm desempenho pior do que se fossem aprovados sem saber. “Ao se depararem com as mesmas aulas, terão os mesmos resultados negativos. Ademais, a repetência chamusca sua autoestima e aumenta o seu grau de ansiedade. Pior, nos Estados Unidos, acirra a desigualdade racial. E, obviamente, aumenta os custos da educação pública”, conclui o pesquisador em Educação, Claudio Moura Castro em artigo publicado no Estadão.
As pesquisas estadunidenses concluem que, no ensino básico, “a melhor solução é manter a promoção automática e, ao mesmo tempo, identificar precocemente os alunos que, durante o ano, vão ficando para trás. Para eles, cumpre oferecer auxílio suplementar, para que não se distanciem dos colegas, ao longo do mesmo ano.”
Castro também pensa assim, e acrescenta: “Estivemos e estamos diante do mesmo quadro. Onde a repetência é permitida, esses alunos se separam de seus colegas e amigos, virando penetras, em turmas mais jovens. Ficam frustrados. Não têm paciência para enfrentar as mesmas aulas que não haviam entendido antes. Assim, aprendem menos do que se estivessem na série seguinte. Note-se bem, isso não é divagação ou especulação, é o que mostram pesquisas confiáveis.”
Castro acha que no Brasil, dado o abismo de classes em que vivemos, as percepções são diferentes. Famílias ricas veem a progressão de forma problemática e cobram estudo dos filhos, chegam a ameaçar com o presente de Natal (se ele estudar bastante vai ganhar uma bicicleta…), não aceitam que eles encerrem o ano pouco entendendo o que estudaram e passem para outra classe. Já as famílias pobres veem na repetência uma segunda oportunidade e pouco conhecimento tomam da progressão.
Ao fim e ao cabo chegamos mais uma vez a participação familiar como fundamental para se evitar repetência se a progressão automática não existisse. Sobretudo, progressão sem planejamento e plano b, creio, seja a pior das alternativas.