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Ao se aliar a políticos de carreira, o novo representado por Willian Godoy ficou só no fato de ser jovem

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Alaércio Bremmer*

 

 

 

 

Nos últimos dias, a cidade de Canoinhas foi acometida por um intenso e acalorado debate acerca de dois projetos de bastante clamor popular: o que visava a proibição de fogos de artifício com alto estampido e o da divulgação da lista de vacinados contra a covid-19. Diante deste cenário, ante argumentos prós e contra, prevaleceu o teor altamente passional por todos os lados. Ao falar deste teor passional não o considero um elemento positivo tampouco negativo, mas como um dado objetivo – o elemento passional é um constitutivo da política, e quem quer que entre nesta seara deverá saber trabalhar com ele. Esperar que a política seja dominada só e tão somente pela razão é uma singela utopia.

 

 

 

Voltando ao ponto inicial deste texto, a saber, a questão dos referidos projetos, em meio a estas passionalidades, um nome em específico acabou se destacando: o do vereador Willian Godoy, que foi do céu ao inferno em questão de uma semana por conta das posições que tomou frente a tais discussões. O desgaste político foi enorme. Aí colocamos as questões: por que só o nome do referido vereador entrou para a berlinda? Quais motivos fizeram com que seu nome fosse mais atingido que o dos demais vereadores da base governista?

 

 

 

Atribui-se ao célebre Barão de Itararé (1895 – 1971) a seguinte frase: “de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo”. Eis o ponto chave da questão: ninguém ficou muito surpreso com os votos de Wilmar Sudoski, Professor Osmar e cia, porque, em se tratando de políticos da velha guarda, ninguém espera grandes inovações. O mesmo, no entanto, não ocorre com Willian, que se elegeu ancorado nos discursos de renovação, inovação e nova política, tudo isso, somado ao brilhante papel filantrópico que desempenhou no munícipio antes de sua carreira na vereança. Diversos indivíduos com os quais tive a oportunidade de conversar ao longo do período eleitoral sempre mencionavam tais razões para o voto no supracitado vereador. Ao contrário dos demais governistas, criou-se uma alta expectativa em torno dele.

 

 

 

 

 

No entanto, decorreu de tal proposta uma pequena dificuldade que agora começa a dar as caras: como conciliar um discurso de inovação sendo de base governista? O problema já começa no arranque, afinal, ao se incorporar a tal base, por mais íntegro e idôneo que seja o sujeito, sempre irá pairar sobre ele o fantasma da política dos conluios e dos acordões, item número um na lista da chamada velha política.

 

 

 

 

Tal fantasma se mostrou assombrosamente presente naquela sessão em que os projetos foram rejeitados. Configurou um objeto a mais de complicação, a posição manifestada anteriormente pelo vereador no tocante ao projeto de lei dos fogos de artifício: com entusiásticos elogios e ares de aprovação num primeiro momento, seguido, na sessão posterior, de um constrangedor silêncio e voto contrário a este projeto e ao da lista de vacinados. As justificativas a respeito dos votos, que vieram após o desgaste sofrido, embora tivessem argumentos que as embasassem (excetuando-se a informação falsa proferida a respeito da prefeitura de Blumenau), já não surtiam mais efeito, haja vista que deveriam ter sido feitas durante a sessão e não após, como uma forma de consertar o que já não podia mais ser consertado. Isso acabou por criar uma quebra de expectativa em parte de seus eleitores e dos demais cidadãos canoinhenses, que começaram a questionar a autenticidade do seu discurso eleitoral bem como o seu grau de independência em relação ao executivo. Neste contexto, acabou por parecer mais do mesmo.

 

 

 

 

Seguiu-se daí surpresa, frustração e, evidentemente, críticas e mais críticas em torno de seu nome, já que sua prática pareceu destoar do que foi prometido em campanha. Ao se aliar a políticos de carreira, o novo ficou só no fato de ser jovem. A consequência disso, foi a pior possível para um político iniciante: por ter esse ímpeto de novidade e seguir em linhagem oposta, acabou blindando a velha guarda e colhendo quase que solitariamente a impopularidade que seria destinada a esta.

 

 

 

 

Por sua vez, o tom beligerante que adota no presente, inflamado de emocionalidade e se colocando como uma espécie de vítima de críticos, oposicionistas e veículos midiáticos, em nada parece ajudar na sua reerguida, contribuindo antes, para o fortalecimento do desgaste e ceticismo para com a sua figura.

 

 

 

 

 

Talvez seja o caso de o vereador, neste cenário crítico, mais do que tentar achar culpados pela sua situação, revisitar seu discurso eleitoral e as bandeiras que o elegeram, e, quem sabe, traçar novos caminhos e começar a seguir por uma linhagem mais independente e desprendida de seu padrinho político (creio que já tenha percebido os danos que uma fidelidade exagerada pode causar). Caso contrário, vai ser vítima de si mesmo e do discurso que o elegeu, e em se tratando de política, não custa lembrar, há erros que comprometem ao infinito.

 

 

 

 

*Alaércio Bremmer é licenciado em filosofia pela Universidade Estadual do Paraná

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