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Das Araucárias à Amazônia: os insaciáveis desmatadores “tradicionais”

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Justificar que o desmatamento é algo importante para o agronegócio brasileiro é uma aberração

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Há mais de dois anos temos superado, mês a mês, um triste recorde no país: o do aumento do desmatamento ilegal na região Amazônica. E não tem sido diferente na maioria das regiões do Brasil, uma vez que potentes sistemas de monitoramento por satélite têm captados redução da cobertura florestal em muitas regiões.

E o que me deixa mais triste é ver a gigantesca confusão gerada pelas mídias e pelo próprio governo, relacionando desmatamento e a produção agropecuária no Brasil. Justificar que o desmatamento é algo importante para o agronegócio brasileiro é uma aberração! Nós somos muito melhores que isso.

Na verdade, o que vemos são gigantescos proprietários de terras do Brasil (inclusive grileiros conhecidos) defendendo desmatamento e usando a justificativa de que isso é importante para o pequeno agricultor ou a Agricultura Familiar. Isso não é verdadeiro. Não mais.

O problema é que, apesar do Brasil  ser um dos países que mais avançou ao longo das últimas décadas no desenvolvimento de tecnologias agropecuárias sustentáveis, que nos permitiu, inclusive, ocupar o papel de principal produtor de alimentos no planeta, ainda reina um infeliz “tradição”, que é a da cultura agroextrativista. Um grande exemplo disso é o corte da madeira nativa que, embora não seja totalmente clandestino ou criminoso, atua na sua maior parte irregularmente.

Quase 80% da exploração de madeira na Amazônia é ilegal. E esse comportamento não é recente. Na verdade, temos uma longa tradição na matéria. Analisando com seriedade, é possível verificar que um dos maiores crimes socioambientais do planeta – infelizmente ainda não reconhecido como tal – teve seu palco na então imensa Floresta com Araucárias que podia ser observada, principalmente, nos estados do sul do Brasil. Mais de 90% de sua área original foi devastada no século passado, em menos de 100 anos. Sua exploração foi realizada com tamanha ganância e violência que acabou por produzir, inclusive, uma guerra, a “Guerra do Contestado”. Hoje, embora a cobertura florestal tenha aumentando nos Estados do Sul com as políticas ambientais dos últimos 30 anos, praticamente não existem mais áreas de Floresta de Araucária em estado de conservação original. E mesmo o que existe hoje é ameaçada por crimes de toda espécie e pela erosão genética.

Agora, em pleno século XXI, a única mudança parece ter sido no local de atuação dos desmatadores, grande parte deles, inclusive vindo de empresas “tradicionais” do Sul do Brasil. Diversas operações deflagradas pela Polícia Federal na região amazônica, acaba chegando, inclusive, em modelos ilegais de extração e exportação de madeira, ligadas à um conjunto de “empresas familiares” do Sul, com sofisticados esquemas de fraude de créditos florestais por meio de inserção de dados falsos no Sisflora (um sistema de controle de produtos florestais).

Os crimes ambientais e a corrupção andam juntos há séculos. Combatê-los é tarefa complexa, mas as experiências de redução do desmatamento entre 2004 e 2014 mostrou que isso é possível no curto prazo, desde que com investimentos em fiscalização, controle e propostas de manejo. No médio e longo prazos, precisamos de um novo modelo educacional e órgãos ambientais livres de pressões políticas. Esse conjunto de ações pode nos poupar de repetirmos com a Amazônia aquilo que se fez no sul do Brasil.

Infelizmente, o sucateamento e as pressões políticas sobre os órgãos ambientais e a manipulação da legislação objetivando enfraquecer ainda mais a capacidade de controle das instituições, como a proposta de “municipalização” das ações de licenciamento e fiscalização são evidências incontestáveis desse desmonte orquestrado.

Como vimos, há inúmeras provas de que a impunidade secular e a tradição extrativista que arrasou 99% da floresta com Araucárias e Campos Naturais continua se disseminando pelo país com ainda mais força em pleno século XXI. É hora de lembrarmos dos fantasmas da destruição do passado, pois, eles nos dão uma pista sobre o futuro da região e sussurram: “mirem-se nos pinheirais”.

*Texto baseado no artigo de Giem Guimarães, do Observatório de Justiça e Conservação




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