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Apesar de ato solene ter ocorrido dia 22, cidade comemora 60 anos dia 23

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No dia 22 de janeiro de 1961, Colônia Vieira foi emancipada de Canoinhas

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Assim como Três Barras, Major Vieira comemora 60 anos neste sábado, 23. O ato solene de emancipação do então distrito canoinhense de Colônia Vieira, no entanto, aconteceu em 22 de janeiro de 1961, com a presença do governador Heriberto Hülse. A questão era meramente de agenda, ao que parece. Como já havia marcado o ato em Três Barras para o dia seguinte, temendo não dar conta dos dois compromissos, o governador dividiu os atos. A lei que torna Major Vieira cidade, contudo, é de 23 de janeiro de 1961. Pedro Allage Filho assumiu como primeiro prefeito e permaneceu no cargo aé 1º de março, quando João Walter Grabowski assumiu a prefeitura. Tudo por indicação. O primeiro eleito pelo voto direto seria conhecido somente em 12 de outubro daquele ano: Antônio Maron Becil.

 

 

 

Depois de ser diplomado, o primeiro prefeito de Major Vieira, Pedro Allage Filho, convidou os presentes para um coquetel em sua casa. Chamou a atenção a ausência do prefeito de Canoinhas no ato. De fato, a emancipação não era consenso e Major Vieira só alcançou o intento porque havia muito mais interesse na emancipação de Três Barras, às vésperas de receber o lucrativo investimento da Rigesa, explica o historiador Fernando Tokarski. “O investimento industrial, pois o florestal já existia”, observa o historiador

 

 

 

Os primeiros registros sobre a região de Major Vieira remontam por volta de 1880, quando a região foi passagem de tropeiros que transportavam gado, couro e charque do Rio Grande do Sul para São Paulo e Minas Gerais. Ali eles paravam para descansar e, assim, foram construindo na região pequenas comunidades.

 

 

 

Depois da Guerra do Contestado, uma leva de imigrantes poloneses chegou às terras em busca de melhores oportunidades. Na época, o lugar chamava-se Colônia Vieira.

 

 

Em 1924, quando italianos, alemães e alguns poucos ucranianos já habitavam as terras, a área passou a distrito de Ouro Verde, atual Canoinhas. O nome do Município é uma homenagem ao major Thomaz Vieira, primeiro superintendente de Canoinhas.

 

 

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Fundação do Município descrita no jornal Correio do Norte/Reprodução

 

 

 

Memórias de dois ex-prefeitos

Texto publicado no jornal Correio do Norte em 2008. Os dois ex-prefeitos entrevistados já faleceram

Os passos lentos de Sebastião Costa, pesados pelos 86 anos que carrega e agravados por um derrame, sustentam uma história que se confunde com os primórdios de Major Vieira. Costa foi o segundo prefeito da cidade, emancipada em 23 de janeiro de 1961. Até então, Major Vieira era distrito de Canoinhas. “A emancipação veio, mas o progresso demorou”, lembra.

 

 

Galeria de ex-prefeitos/Reprodução da Revista Major Vieira 50 anos

Segundo Costa, a recém-criada cidade padecia de tudo, especialmente de estradas. E olha que ele entendia bem do assunto. Como responsável pelo pequeno cartório da vila, quando precisava resolver problemas em Canoinhas encarava os quase 30 quilômetros que separam os municípios a pé. “Levava meio dia para ir e meio dia pra voltar”, conta. A estradinha precária não era onde hoje está a SC-477. Ficava mais a esquerda, pelos lados da Forquilha, mas a distância era praticamente a mesma.

 

 

 

Tipógrafo de mão cheia, Costa passou a adolescência em Canoinhas, trabalhando com Albino Budant na gráfica do jornal Barriga Verde. “Fiz de tudo, cadernos, blocos para a Lumber e o jornal, claro”, conta com as limitações que o raciocínio lento lhe permite. Mas nem sempre foi assim. Trabalhando ativamente, ao se mudar para Major Vieira, depois de uma estada em sua terra natal, Timbó Grande, Costa foi um dos responsáveis pela pressão feita na Câmara de Canoinhas para emancipar o município, que desembocou na Assembleia Legislativa. Como dono do cartório, ele sabia muito bem que somente a emancipação possibilitaria preencher as muitas lacunas da vila.

 

 

 

Menos de sete anos depois de Costa estar morando em Major Vieira com a esposa que havia conhecido em Timbó Grande, a vila foi emancipada em projeto de Lei aprovado pela Assembleia Legislativa de SC que emancipou também Três Barras.

 

 

 

Arquivo

 

 

Em 1900 a vida no Oriente Médio era tão difícil quanto hoje. Foram as dificuldades que chegaram à fome que levaram os pais de Miguel Maron, 91 anos, a deixarem a Síria e se aventurarem rumo ao Brasil em busca de uma vida menos sofrida. Miguel nasceu em 1918 em Tamandaré, distrito de Curitiba-PR, mas não tem lembrança nenhuma da localidade. “Vim para Major Vieira com um ano de idade”, conta.

 

 

 

Major Vieira nessa época era a referência a um parrudo e bigodudo senhor que comandava a prefeitura de Canoinhas como o primeiro prefeito do município criado em 1911. Anos antes, em 1902, Vieira havia vivido na Campina dos Santos, localidade que compreendia toda a região da hoje cidade de Major Vieira, conforme conta o historiador Fernando Tokarski.

 

 

 

Por volta de 1912, Vieira criou exatamente onde hoje está o centro da cidade, a Colônia Vieira. Foi nessa colônia que Maron veio morar em 1919. “Eram só duas ruas de chão batido”, resume o aspecto da colônia.

 

 

 

 

O pai de Maron, Pedro, abriu ali uma casa de comércio, instalada em frente a casa onde até hoje mora Maron.

 

 

 

 

 

 

Costa e Maron têm em comum o fato de terem sido o segundo e terceiro prefeitos de Major Vieira, respectivamente. O primeiro prefeito foi o irmão de Maron, conhecido como Tonico Maron, já falecido. Os três foram baluartes da emancipação da Colônia Vieira numa época em que vereador não era remunerado (somente os que moravam muito longe da Câmara recebiam ajuda de custo) e o ordenado magro de prefeito não compensava as inúmeras dores de cabeça que administrava.

 

 

 

 

Costa lembra que o maior desafio de seu mandato foi combater a lepra (também conhecida como hanseníase). Uma verdadeira epidemia da doença se abateu sobre a região exigindo da prefeitura a compra de uma Kombi que levava os doentes para Florianópolis em busca de tratamento. Muitos morreram sob assistência ou abandonados a própria sorte pela família. É justamente dessa época a criação de leprosários no Brasil, onde os leprosos eram isolados a fim de não contagiar outras pessoas. Essa iniciativa resultou em condenação do Estado brasileiro em 2007 que deve pagar pensão vitalícia de R$ 750 aos confinados até 1986.

 

 

 

 

 

O transporte nesta época era tão precário que apenas quatro moradores da cidade tinham carro. A única certeza de vir para Canoinhas era embarcar em uma marionete que vinha de Papanduva somente uma vez por semana. Certa vez uma tombeira teve de levar pacientes para consultar na Capital.

 

 

 

 

Haroldo Ferreira e Reneau Cubas eram os médicos que encaminhavam os pacientes. Antes a saúde ficava restrita aos cuidados do farmacêutico Sarkis Soares, que tinha farmácia nas proximidades da praça central da cidade. Sarkis havia se instalado em Major Vieira por intermédio da Donabella, empresa que abriu a maioria das estradas do município.

 

 

 

 

POLÍTICA

 

A política majorvieirense teve suas raízes no udenismo. O clã dos Carvalho, capitaneado por Benedito Terézio de Carvalho, um dos grandes incentivadores da emancipação de Major Vieira, sempre influenciou a política local. Quem conta é Costa, que afirma ter priorizado durante seu mandato a abertura de estradas e educação. “Meu primeiro ato foi criar a escola de Agudos”, conta.

 

 

 

 

Maron, que começou na UDN e depois migrou para a Arena, foi vereador durante as duas primeiras legislaturas de Major Vieira, para então se tornar prefeito. Ele lembra que a disputa política na época era bem mais acirrada. “Brigavam muito mais”, diz sem especificar nenhuma briga. Ele lembra que seu mandato se concentrou na compra de maquinários para abrir e conservar estradas.

 

 

 

Quanto a Major Vieira de hoje, tanto Costa quanto Maron concordam que cresceu muito, mas que há muito a ser feito. “O povo quer mais saúde, educação, estrada boa”, afirma Maron que não deixa de frisar sua admiração pelo ex-prefeito Orildo Severgnini. “Bota aí que ele foi um bom prefeito, embora seja meu adversário político… Agora lê pra eu ver se ficou bom”.

 

 

 

 

Costa prefere olhar para o futuro. “O povo quer mudanças, só esperamos que elas realmente venham”.

 

 

 

 

 

 

Quem foi Major Vieira

Major Thomaz Vieira/Arquivo

Manoel Thomaz Vieira, nasceu em 5 de agosto de 1861, na Lapa-PR. Veio para Santa Catarina em 1883.

 

 

Comerciante, fazendeiro, ervateiro, político e major de Guarda Nacional, Vieira era filho de João Thomaz Vieira e de Ana Mattoso. Dono de vastas terras devolutas que recebeu do Governo Estadual, antes de se instalar no território de Canoinhas vivia em Rio Negro, na localidade de Rio Preto, que deixou em 1902. Em seguida, fixou-se na localidade de Campina dos Santos, na área disputada entre Paraná e Santa Catarina na célebre Questão do Contestado.

 

 

Era um dos juízes de paz do distrito de Canoinhas em 1908, mas em outubro desse ano ainda morava em Campina dos Santos – que mais tarde passaria a se chamar Colônia Vieira, hoje cidade de Major Vieira – embora a localidade de Campina dos Santos ainda exista. Nessa época, Vieira detinha o título de capitão da Guarda Nacional.

 

 

 

Em 30 de maio de 1911 doou 100 metros quadrados à Mitra Diocesana de Florianópolis, área na qual se achava edificada uma pequena capela dedicada ao Divino Espírito Santo, no povoado de Colônia Vieira.

 

 

Vieira era filiado ao Partido Republicano Catarinense (PRC) e compadre do prefeito de Curitibanos, coronel Francisco Ferreira de Albuquerque. Aliás, Vieira era o principal correligionário de Albuquerque no sertão do Contestado. Na condição de afilhado político do coronel, por via indireta foi escolhido como o primeiro prefeito de Canoinhas, que governou a partir de 6 de dezembro de 1911. Em 16 de setembro de 1912, já na condição de prefeito, através da carta de aforamento 69 doou à Mitra Diocesana oito lotes urbanos destinados à construção da atual Igreja Matriz Cristo Rei, de Canoinhas.

 

 

 

 

A rua Major Vieira é assim chamada porque Vieira mantinha ali sua residência e uma casa comercial em torno de 1913, diante da praça Lauro Müller.

 

 

 

Reeleito prefeito, também foi escolhido o primeiro representante de Canoinhas na Assembleia Legislativa, tornando a ocupar uma cadeira como deputado estadual na legislatura seguinte.

 

 

 

Eleito suplente de vereador em 4 de agosto de 1918 ao obter 131 votos, passou a titular do cargo em 10 de outubro de 1919.

 

 

 

Desgostoso com os rumos políticos do município por causa dos episódios de sua sucessão na prefeitura, quando apoiou o candidato derrotado Severo José de Almeida Filho, no mesmo ano mudou-se para a vila de Papanduva, onde possuía uma pequena propriedade rural e ali criava antas e porcos-do-mato. Eleito vereador para o quadriênio 1923-1927, chegou a presidente da Câmara de Vereadores em 21 de janeiro de 1924.

 

 

 

Morreu de infarto em 2 de junho de 1927, aos 55 anos, em sua casa, deixando uma lacuna na política local.

 

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