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abril

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A vingança de Meaghan

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Depois de seduzi-los o estilete mágico executaria o lance final

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Meaghan prometeu fazer tudo o que suas colegas pedissem ou quisessem em troca de deixarem a cabine livre, mesmo que por um pequeno espaço de tempo, em alguns dias apenas, antes que o navio atracasse no porto do Rio de Janeiro. Foi assim que os amantes puderam deliciar-se a sós, longe das vistas de toda a população que pelo oceano singrava a bordo do grande barco da Companhia Inglesa de Navegação.

Finalmente chegara a tão sonhada noite da folga de Meaghan. Exatamente quando faltavam dois dias para chegarem ao destino.

George tinha a certeza de que ela desembarcaria com ele. Nada lhe prometia. Usava mil artifícios, desconversava. Não queria desapontá-lo. Sabia, como sempre soube, que seria um amor impossível. Ela, como todas as demais bailarinas, jamais conseguiriam desvencilhar-se da sina que as acorrentava. Sempre estavam em débito com os empresários.

Era chegado o último dia a bordo. Meaghan tentou falar francamente com ele. A fim de consolá-lo prometeu fazer todos os esforços. Deu-lhe o nome de um bar junto ao cais onde ela o procuraria no dia seguinte.

Em seu íntimo ela sabia que nada poderia prometer. Havia sempre, dentro dela, um grande motivo para permanecer naquela vida. Um dia Steven e seus amigos apareceriam em algum lugar onde ela estivesse se apresentando. Tinha tudo planejado. Poderia acabar seus dias em uma prisão, mas daria cabo à vingança com que há tanto sonhara. Levava consigo um afiadíssimo e fino estilete. Não, não havia intenção de acabar com a vida deles. Pelo menos, não com a vida física. Apenas com as funções fisiológicas que tanto orgulho traz a tantos homens.

Em todos os cabarés e em todos os navios em que peregrinava sempre havia um garçom e um médico amigo. A cada dia elaborava melhor os planos. Levaria um a um ao seu camarim. Depois de seduzi-los o estilete mágico executaria o lance final. Órgãos sexuais dos estupradores seriam jogados aos peixes ou aos porcos. E o cirurgião de bordo, de imediato executaria uma esmerada sutura, salvando-lhes a vida. Ela via a cena, como se estivesse em um teatro.

Logo após o desembarque dos passageiros a orgia na parte superior do navio foi destinada aos residentes do Rio de Janeiro. Enquanto as cargas eram transportadas para o cais e outras tomavam o seu espaço no porão, nos salões do alto as festas não tinham fim.

Entre as correspondências que haviam chegado ao Rio de Janeiro por outros navios que ali já haviam aportado, havia uma carta destinada para a bailarina Brigitte. Ela deu um grito quando leu o nome do remetente. Era um detetive que ela contratara já há algum tempo. Sua função era a de sempre acompanhar a movimentação de Steven e seus amigos. Correu para a cabine. Rasgou o grosso envelope na ânsia de saber o que o profissional tinha a relatar.

Começava dizendo que ela agora estava livre das agruras que por tantos anos a consumiam. Os algozes que deixaram marcas profundas em sua vida nunca mais conseguiriam continuar com seus atos ignominiosos. Os primeiros a perder a vida foram os dois amigos de Steven. A ele coube a sentença de continuar vivo tendo que se contentar em ver seu assoalho perineal apenas com um meato urinário. Tudo acontecera em um duelo. Tanto ele como seus amigos jamais deixaram sua perversidade de lado. Acreditavam que tinham o direito de pisotear e destruir todos os incautos botões de rosa que encontrassem pelo caminho. Certo dia quando estavam a passear na carruagem de Steven, viram uma quase menina com sua jovem ama a sair de uma Igreja nos arredores do condado de Birmingham. Foram atrás das duas que se dirigiam a pé para o castelo onde viviam, situado nas proximidades.

Audaciosamente jogavam palavras bajuladoras falando sobre a beleza de ambas. Como elas não lhes dessem atenção e apressassem o passo agarraram-nas com força, atiraram-nas para dentro da carruagem e com os mais rudes e agressivos gestos começaram a rasgar suas vestes e a tentar beijá-las freneticamente.

Ocorre que a carruagem da família estava logo atrás. Sempre que as duas saíam a fim de irem à Igreja ou fazer algum passeio a pé, o carro seguia por perto. Dentro dele não se encontrava apenas o cocheiro, mas também dois guardas armados. Em um instante emparelharam os veículos e de imediato já estavam dominando os três estupradores. Além das vestes rasgadas, de algumas escoriações e equimoses nada de pior aconteceu às quase novas mártires.

Os três assassinos nem conseguiram fazer ideia do que estava ocorrendo e nem imaginavam que a sua vergonhosa sanha os fizera se meter com a filha do Marquês de Coppershields.

Não foram aprisionados. Foi algo muito pior. O Marquês desafiou-os para um duelo a realizar-se já na madrugada seguinte. Que providenciassem padrinhos e testemunhas. As armas seriam escolhidas pelo Marquês.

Steven sorriu debochadamente. Praticava esgrima desde garoto e já imaginava ver o sangue do Marquês e dos demais com quem se digladiassem a escorrer pela terra.

Mas o Marquês optou por pistolas. Que em sua fábrica de armas eram feitas. Pistolas adrede preparadas para que apenas os mais treinados conseguissem manuseá-las devida e rapidamente.

Na madrugada seguinte, em um local distante algumas milhas do Castelo de Coppershields apresentaram-se os três rapazes com padrinhos que conseguiram encontrar pelas ruas do Condado. Nenhum conhecido deles em toda a região.

O primeiro a enfrentar o Marquês foi Robert, o mais jovem. Logo que foi dada a autorização para o primeiro tiro, caiu fulminado sem sequer ter tido tempo de puxar o gatilho. Não havia outros oponentes. O próprio Marquês de Coppershields, pai da jovem, logo em seguida, com outro tiro certeiro acabou com a vida de William.

Chegada era a vez do apavorado Steven. Tentou fazer uma cena, lamuriando-se, lamentando-se, a dizer que não tinha nada com o que tentavam fazer com as duas jovens, que nem conhecia direito os dois acompanhantes. Nada demoveu o pai da pequena Marquesa. Ordenou-lhe que se pusesse a postos e aguardasse a ordem para o primeiro tiro.

Foi neste ponto que o detetive fez um suspense na narrativa.

“A senhorita ficará realizada ao saber do desfecho final. O Marquês não mirou no coração do seu desafeto. Com um tiro certeiro estraçalhou os órgãos genitais de Steven que ainda puxou o gatilho. A bala, porém, percorreu um longo caminho alojando-se no tronco de uma árvore.

O Marquês olhava para a bela fatiota de Steven, por onde o sangue escorria em borbotões e ainda falou para ele.

— Agora o cirurgião aqui presente rapidamente costurará suas partes destroçadas para que você não morra. Para que você fique com o que lhe resta de tempo de vida a olhar para esta cicatriz e saber que nunca mais fará mal algum a outras mulheres.

Em seguida os vassalos do Marquês tiraram a pistola da mão do estuprador e removeram seus calções ensanguentados. Ali mesmo o cirurgião deus alguns pontos que fizeram cessar a hemorragia. Largaram Steven em uma taberna a aguardar a sós o que a vida lhe reservaria.

Soube depois que precisou mendigar por socorro, por alguém que o levasse até Stratford Upon Avon. Ninguém teve coragem de atendê-lo em respeito ao Marquês que era o senhor de todos aquele território.

Meaghan estava realizada. Não se vingara por suas mãos. A vida encarregara-se de dar a devida lição aos seus algozes.

Imaginou que agora poderia deixar a vida que levava. Não havia mais razão de continuar a executar aquelas abomináveis funções. Começou a juntar suas coisas. Criou coragem e foi falar com o empresário. Recebeu em troca uma gargalhada.

— Esqueceu-se a donzela que ainda nos deve quase mil libras esterlinas? Que tudo o que pensa que é seu em realidade nos pertence?

O desespero tomou conta de Meaghan. Durante os poucos dias em que o navio continuou atracado no porto do Rio de Janeiro ela arquitetava planos para dele conseguir evadir-se. Nas poucas vezes em que tentou escapar ou por alguma escotilha ou mesmo dirigindo-se para a escada que levava ao cais, via seus planos desvanecerem-se ao dar de encontro com algum dos leões de chácara que não a perdiam de vista.

George ficou dias a esperar por ela na taberna próxima ao porto. Desolado, a sós, viu o navio zarpar. Postou-se à beira do cais e ficou a abanar um grande lenço branco, a bandeira de seu desespero e da sua saudade. Viu-a, ainda, debruçada sobre a amurada do convés inferior, braços estendidos como quem ao mar tentasse se lançar. Mas George sabia que depois de tantas agruras pelas quais passara jamais ela faria a loucura de dar um triste fim à sua vida. Meaghan era uma pessoa forte e decidida. Ele tinha a certeza que deixara um ponto marcado no coração daquela mulher. Tentaria amaciar este ponto dentro de seu eu até torná-lo a mais bela recordação de sua vida.

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