Brasil precisa extrair o quanto antes sua riqueza petrolífera do pré-sal
Jorge Amaro Bastos Alves*
O petróleo é uma matéria-prima estratégica não apenas para produção de combustível e energia, mas, também porque é, e ainda será por muitas décadas, o principal insumo da indústria petroquímica mundial. No Brasil, em 2020, cerca de 47% da oferta de energia provinha do petróleo e gás natural, e o setor representava aproximadamente 14% do Produto Interno Bruto (PIB). No entanto, a participação de energias renováveis na matriz energética, principalmente eólica e solar fotovoltaica, vem crescendo tanto no Brasil como no mundo.
Algumas grandes empresas petrolíferas mundiais, como a britânica BP e a norueguesa Equinor, têm alocado capital na produção de energias renováveis – especialmente a eólica e solar – diversificando assim, seu portfólio de produtos. Já a Petrobras vem investindo em extração de petróleo com baixa emissão de carbono – em 2020 reduziu 5% das emissões de gases de efeito estufa – e desenvolverá sua transição energética no longo prazo produzindo energia renovável com foco em eólica e solar.
Essa mudança de posicionamento das petroleiras buscando uma transição energética e se transformando em “empresas de energia” não é totalmente espontânea, visto que elas estão sob pressão de acionistas e ativistas do clima para reduzir suas emissões de carbono das operações de exploração e produção de petróleo e gás.
No curto prazo, a Petrobras vem focando seus investimentos na exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas, como o pré-sal, segmento em que detém reconhecida competência, e onde a empresa possui imensas reservas de petróleo e gás. A produção nos campos do pré-sal já representa cerca de 70% do total produzido pela Petrobras em barris de óleo equivalente por dia – medida que considera tanto a produção de petróleo quanto a de gás. A qualidade do petróleo do pré-sal é leve, mais fácil de ser refinado e de produzir derivados finos em maior quantidade, possuindo, portanto, maior valor de mercado. Além disso, o custo de extração do barril de óleo equivalente na área do pré-sal caiu de US$ 14 o barril em 2014 para US$ 2,5 em 2020.
Cabe lembrar que a Petrobras vem se recuperando da maior crise financeira e institucional de sua história, quando veio à tona, por conta de investigações da operação Lava Jato, um esquema de corrupção e desvio de dinheiro na empresa no período 2003-2016. À vista disso, a empresa iniciou em 2015 seu Programa de Desinvestimento, visando abater sua pesada dívida, o que representa efetivamente uma quebra do monopólio do setor, posto que, a despeito da abertura do mercado ocorrida em 1997 com a promulgação da chamada “Lei do Petróleo”, a Petrobras ainda se impõe como monopolista no setor petrolífero no Brasil. Assim, a empresa vem se desfazendo de ativos ligados às atividades de exploração em campos terrestres e de águas rasas descobertos na década de 1970, além de refinarias, possibilitando a entrada de players independentes no mercado.
No entanto, como o mundo caminha a passos largos para uma economia verde, e à medida que a tecnologia dos combustíveis renováveis se torna mais eficiente, o que por consequência, derruba seu preço, o petróleo que hoje em dia se queima para mover veículos será substituído. Olhando para o futuro, podemos vislumbrar os veículos elétricos em uma trajetória de crescimento mais acentuada do que os veículos híbridos.
Dessa forma, o petróleo, como a matéria-prima valiosa que é, poderá ser preferencialmente utilizado para fins mais nobres, como por exemplo em suprimentos hospitalares e na indústria farmacêutica. Fato é que sobrará petróleo no mundo, o que impactará negativamente o seu preço. Por isso, o Brasil, “para não perder o bonde da história”, precisa extrair o quanto antes sua riqueza petrolífera do pré-sal, pois, é de bom alvitre lembrar a frase de Ahmed Zaki Yamani, ex-ministro do petróleo da Arábia Saudita “A idade da pedra não acabou porque o mundo ficou sem pedras, e a era do petróleo chegará ao fim, não por falta de óleo”.
*Jorge Amaro Bastos Alves é economista, mestre em Desenvolvimento Regional e doutor em Ciência e Tecnologia Ambiental. [email protected]