Série da Apple TV+ é uma tocante reflexão
ANGÚSTIAS DOS 30
Nos idos tempos do Orkut, fiz parte da comunidade “Eu tive um futuro promissor”. Pronto, já que sabem que tenho mais de 30, estabeleço a ponte com a simpatia que sempre senti pelo trintão Joseph Gordon-Levitt (de 500 dias com ela e Voo 1900), que em Mr Corman, série da Apple TV+ produzida, dirigida e protagonizada por ele, mostra o porquê de tanta empatia.
Levitt interpreta o professor primário Josh Corman. Parece ser a profissão idealizada pelo ator caso não tivesse se tornado o astro que é. Partindo da premissa de que não obteria sucesso, o ator faz um comovente retrato da frustração na fase da vida em que questionamos nossas escolhas. Impossível que a série não tenha tons biográficos, ou seja, ele já pensou nesse rumo para sua própria vida ou fez uma alegoria do que de fato é a sua vida, já que fama não é sinônimo de felicidade (Amy Winehouse e Whitney Houston que o digam).
Digo isso porque o relato parece muito íntimo. Com liberdade criativa total, o ator reflete sobre as escolhas do professor Josh. Solteiro, morando com um amigo, filho de pais divorciados, Josh não consegue um relacionamento minimamente interessante. Entre uma escolha qualquer e a solteirice, se fecha em solidão. Vem a pandemia e sua hipocondria se transforma em ansiedade (o mal do momento) levando-o a paranoia. Josh não sabe o que tem e, na dúvida, revisita suas escolhas para tentar entender como chegou onde está.
Tocante, emocionante e organicamente sincera, Mr Corman fala daqueles que tiveram um futuro promissor, como Josh, mas que a vida levou para caminhos errantes (ou seriam os certos?), fazendo-os criar seu próprio futuro na amargura das decepções e no êxito das realizações.
