Planos de anúncio a partir de R$ 100. Clique aqui e converse com a gente

sexta-feira, 7

de

fevereiro

de

2025

ACESSE NO 

Planos de anúncio a partir de R$ 100. Clique aqui e converse com a gente

A desigualdade no Brasil

Últimas Notícias

Seis brasileiros concentram uma riqueza equivalente à de metade da população do país

- Ads -
- Ads -

Nos últimos dias, durante um evento da Ordem dos Advogados do Brasil, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, trouxe à tona uma verdade tão incômoda quanto urgente: seis brasileiros concentram uma riqueza equivalente à de metade da população do país. Um dado estarrecedor que escancara o quão doente é o modelo econômico e social que estruturamos – ou toleramos. “Tem alguma coisa errada nesse modelo que nós precisamos enfrentar”, afirmou Barroso. E ele está absolutamente certo.

Essa constatação não é nova. Os dados da desigualdade no Brasil são amplamente divulgados por organismos nacionais e internacionais. No entanto, sempre que o assunto ressurge, especialmente quando se fala em corrigir essas distorções, os gritos de “ameaça à liberdade econômica” ecoam pelas redes e tribunas políticas, como se taxar grandes fortunas fosse um ataque aos alicerces da civilização. Mas vamos esclarecer uma coisa fundamental: não estamos falando do trabalhador que conseguiu quitar sua casa, trocar de carro ou até investir em um imóvel na praia. Esses bens, fruto de anos de trabalho e poupança, nada têm a ver com a desigualdade abissal em debate.

O que está em questão é outro tipo de riqueza – uma riqueza que se perpetua em monopólios, privilégios históricos e práticas rentistas que não têm qualquer relação com esforço individual ou mérito. Estamos falando de fortunas que crescem sozinhas, alimentadas pela estrutura injusta de um sistema que premia poucos à custa de muitos. São bilhões acumulados enquanto a maior parte da população sobrevive com o mínimo, muitas vezes sem acesso ao básico: saneamento, saúde, educação de qualidade.

A ideia de tributar grandes fortunas frequentemente é atacada como uma suposta “perseguição aos ricos”. Nada mais falso. O que se propõe – e que muitos países desenvolvidos já adotam há décadas – é um modelo tributário progressivo, onde quem possui mais paga mais, contribuindo para a construção de uma sociedade menos desigual. Isso não é confisco, é justiça social. É compreender que, em uma sociedade civilizada, a riqueza não pode ser acumulada à custa da miséria e do sofrimento da maioria.

Quando um pequeno grupo de bilionários detém o equivalente a tudo que 100 milhões de brasileiros possuem, há algo muito errado. É impossível justificar, do ponto de vista ético ou econômico, a existência de tamanha disparidade. Essa riqueza obscena não se traduz em bem-estar coletivo. Ao contrário: ela concentra poder e perpetua desigualdades.

Um dos argumentos mais usados para justificar fortunas colossais é o discurso do mérito. “Se chegou lá, é porque trabalhou duro.” Mas será que isso explica tudo? Quem nasceu na base da pirâmide social brasileira sabe que “trabalhar duro” não garante nem mesmo escapar da pobreza, quanto mais ascender socialmente. Enquanto isso, os donos das maiores riquezas acumulam fortunas que crescem exponencialmente não porque trabalham mais, mas porque estão sentados sobre estruturas que perpetuam privilégios.

O sistema tributário brasileiro é um dos mais regressivos do mundo. Aqui, o pobre paga proporcionalmente muito mais impostos do que o rico. A tributação do consumo, que incide sobre alimentos, produtos básicos e serviços essenciais, pesa sobre todos, independentemente da renda. Já o patrimônio e as grandes heranças, que concentram a maior parte da riqueza dos mais ricos, são taxados de maneira irrisória ou nem sequer entram na conta.

O Brasil é o país das contradições. Aplaudimos os bilionários enquanto ignoramos os milhões que passam fome. Celebramos o “sucesso individual” como se ele não fosse fruto de um sistema desigual que privilegia alguns em detrimento da maioria. Permitimos que grandes fortunas permaneçam intocadas enquanto hospitais colapsam, escolas caem aos pedaços e milhões de brasileiros vivem sem perspectivas.

O que Barroso disse é uma verdade incontestável. Mas não basta constatar. É preciso agir. O debate sobre taxação de grandes fortunas e redistribuição de riqueza não é uma questão ideológica, é uma questão de sobrevivência como sociedade. Ou enfrentamos essa desigualdade agora, ou continuaremos condenados a um futuro de injustiça e instabilidade.

O Brasil não precisa de heróis bilionários, precisa de um sistema justo, onde a riqueza seja um instrumento de desenvolvimento coletivo, e não um monumento à desigualdade. Que comecemos a derrubar os mitos e construir uma sociedade que não apenas tolere, mas celebre a equidade.

- Ads -