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Dom Pedro 2º – O Imperador Ambientalista

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Floresta da Tijuca é obra do imperador

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José Mário Vipievski Júnior*

Jairo Marchesan**

 

 

A biografia de Dom Pedro 2º não chega a ser uma novidade, considerando-se que nas aulas de história estudamos seus feitos e desfeitos. Porém, existem algumas características da vida do imperador que por vezes escapam do estudo regular, como por exemplo, a especial atenção que ele dispensava para a arte, cultura e ciências, bem como o reconhecimento e prestígio que possuía entre intelectuais, políticos e artistas, figuras como Charles Darwin, Victor Hugo, Louis Pastour, Alexander Graham Bell, entre outros. O Imperador tinha sensibilidade e profundo interesse pelas questões ambientais, tais como, clima, chuvas, enchentes, estiagem, saneamento básico, inclusive com a implementação de políticas públicas ambientais, como veremos a seguir.

 

 

 

 

Como é sabido, Dom Pedro 1º (o pai), voltou para Portugal, abdicando-se do trono brasileiro em favor de seu filho de 5 anos, D. Pedro 2º, que teve como tutor José Bonifácio de Andrade e Silva, conhecido como o Patriarca da Independência, que, além de estadista e poeta, era naturalista reconhecido no campo da química e da mineralogia (há inclusive um mineral que recebe o nome de andradita, em sua homenagem). José Bonifácio tinha grandes preocupações relacionadas ao meio ambiente, e possivelmente influenciou o jovem imperador quanto a estas questões.

 

 

 

 

Jornais da época, bem como o “diário pessoal de viagem” de D. Pedro 2º destacavam que o Imperador havia feito ponderações e sugestões com relação as enchentes, desmatamentos e deslizamentos ocorridos em Petrópolis (RJ), apontando para a necessidade de reflorestamento nos morros cariocas. Registrava em seu diário os índices pluviométricos, as temperaturas, o nível dos rios, os estragos causados pelas enchentes nas vias e prédios públicos, o que demonstrava sua profunda preocupação e sensibilidade com as questões ambientais do seu tempo.

 

 

 

Uma das ações ambientais mais relevantes realizadas pelo Imperador D. Pedro 2º foi o reflorestamento da Floresta da Tijuca, realizado entre os anos de 1862 e 1894. A cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império, havia aumentado significativamente seu número de habitantes, e dentre vários problemas ambientais destacavam-se saneamento e surto de doenças, e atravessava ainda um extenso período de estiagem.

 

 

 

O Imperador, para tentar resolver o problema da falta de água e do clima seco, ordenou que fossem reflorestados os mananciais de uma área que atualmente é conhecida como uma das maiores florestas urbanas do mundo, a Floresta da Tijuca. O nome “Tijuca” é de origem indígena Tupy, e significa “água podre”, “banhado”, era a forma pela qual os índios se referiam a uma lagoa situada no local, o que indica a relevância hídrica da área em questão. Para garantir o sucesso da empreitada, D. Pedro 2º ordenou ainda que fossem desapropriadas áreas vizinhas, nas quais haviam sítios e lavouras de café, e que realizassem o plantio de árvores nativas por toda a extensão da área.

 

 

 

 

O Major Manuel Gomes Archer foi o responsável por iniciar os trabalhos, juntamente com seis escravos, alguns feitores e assalariados, realizando o plantio de mais de 100 mil árvores, principalmente de espécies da Mata Atlântica.  Posteriormente, o Major foi substituído pelo Barão d’Descargnolle, que deu continuidade aos trabalhos de plantio e incrementou o paisagismo, voltado para visitação pública e contemplação da natureza.

 

 

 

 

Assim se fez, pelas ordens do Imperador, a Floresta da Tijuca, que ficou abandonada por um período, sendo revitalizada no ano de 1940, com o acréscimo de restaurantes, reabertura de trilhas internas e retomada de projetos paisagísticos. Posteriormente, foram acrescentadas outras formações florestais e paisagísticas existentes no entorno da floresta, resultando no chamado maciço da Tijuca, que foi transformado em Parque Nacional da Tijuca, e atualmente conta com uma área de 39,52 km² (3.952 ha), equivalente a aproximadamente 4000 campos de futebol.

 

 

 

 

O Parque possui várias atrações, dentre as quais, lagos, cachoeiras, ruínas de antigas fazendas de café, trilhas, mirantes, morros e grutas. Algumas atrações são populares e reconhecidas internacionalmente como o Cristo Redentor, o Morro do Corcovado, a Vista Chinesa e a Pedra da Gávea.

 

 

 

O Parque Nacional da Tijuca recebia, até 2019 – antes da pandemia do coronavírus -, anualmente, mais de dois milhões de visitantes, sendo de extrema relevância para o turismo e economia do Rio de Janeiro, mas, além disso (e talvez até mais importante), é o fato de que o Parque contribui de forma significativa para a manutenção do equilíbrio ambiental local. Como está encravado em meio a áreas urbanas, auxilia para regular o clima na cidade, faz a retenção de águas, controle de erosões e de deslizamentos nas encostas, melhoria da qualidade do ar e abriga espécies ameaçadas de extinção, entre outras funções ecológicas ou ambientais.

 

 

 

 

A ação de D. Pedro 2º foi pioneira em nível mundial na criação de políticas públicas de regeneração e recuperação florestal, e é mais antiga que o famoso Yellowstone, primeiro Parque Nacional criado nos Estados Unidos, no ano de 1872.

 

 

 

Em que pese nossa tradição republicana nos fazer rejeitar monarquias e impérios, temos que admitir que D. Pedro 2º, no que tange às questões ambientais, foi um homem à frente de seu tempo, e em pleno ano de 2021 continua nos ensinando práticas de preservação e recuperação da qualidade do meio ambiente. Quase 160 anos passados do início do reflorestamento da Tijuca, a ação do Imperador D. Pedro 2º ainda é objeto de análises e estudos, e se reconhece a grandiosidade e importância do feito, não só como um êxito do nosso passado, mas também como um exemplo para o presente e o futuro.

 

 

 

 

 

*José Mário Vipievski Júnior é discente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC).

E-mail: [email protected]

 

**Dr. Jairo Marchesan é docente do Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional e do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da Universidade do Contestado (UnC).

E-mail: [email protected]

 

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