segunda-feira, 15

de

abril

de

2024

ACESSE NO 

Adeus às armas

Últimas Notícias

- Ads -

 Apesar de ser uma obra nitidamente cinematográfica, o seu desfecho difere da maioria dos filmes hollywoodianos

- Ads -

 

 

Há vários motivos para nos dedicarmos à leitura de “Adeus às armas”, de Ernest Hemingway. Primeiro, o estilo muito peculiar do escritor que consegue, ao longo de quatrocentas páginas, fazer uma narrativa embasada quase que unicamente em diálogos. Esta característica o difere consideravelmente de outros romancistas, que realizam grandes descrições. Hemingway é um dos poucos literatos que tem uma escrita cinematográfica, pronta para a transposição às telas.

 

 

 

Outra questão é o tema da obra, uma vez que é ambientado na Primeira Guerra Mundial, que é um legado histórico inegavelmente universal, pois deixou heranças trágicas, memórias enfermas, impulsionou setores econômicos, isto é, mudou a dinâmica do mundo.

 

 

 

O conteúdo é mais realista que um livro de História, na medida em que mostra toda a sordidez de um conflito bélico. Desde os motivos equivocados que levam uma nação a enviar uma parcela de sua população jovem para ser massacrada em solo estrangeiro, ao cotidiano dos envolvidos. Neste, evidencia-se a escassez de alimentos, as doenças venéreas contraídas pelos soldados, o tratamento precário dado aos feridos em combate, as picuinhas entre os militares, entre outros.

 

 

 

 

Há, ainda, um tema pouco comentado, mesmo nos manuais históricos, que é a deserção e o escabroso castigo aplicado àqueles que resolvem romper com o Exército. Ou seja, além de todas as consequências nefastas que uma guerra acarreta, ademais de todas as mortes, ainda há as que são provocadas pela falta de perdão aos que titubeiam.

 

 

 

A ansiedade e surto psicótico que muitos soldados sofrem devido ao ambiente hostil no qual estão inseridos, também são abordados. Uma das manifestações destas mazelas ocorre quando alguns deles se desfazem do material bélico, acreditando que, assim, o conflito cessaria: “- Acham que jogando fora as armas acabam com a guerra e ninguém mais poderá fazê-los lutar” (HEMINGWAY, 2019, p.274).

 

 

 

 

O autor também desmistifica a romantização da guerra, no sentido de que, muitos jovens a idealizavam, pensando tão-somente nos possíveis resultados. No entanto, ao se depararem com a realidade cruenta, percebem que os fins não justificam os meios, e que as consequências negativas são maiores que as positivas: “Já percebia como funcionavam aqueles cérebros, se é que tivessem cérebros e se é que funcionassem. Todos eram moços salvando a pátria” (HEMINGWAY, 2019, p.278).

 

 

 

 

Podemos ver, também, um traço do Niilismo descrito pelo filósofo Friedrich Nietzsche, ou seja, no enredo de Hemingway a banalização da vida, durante um conflito, leva os envolvidos a descrer na significância da existência:

 

 

 

Lançam você aqui, e no primeiro instante em que o pegam, desprevenido ainda, matam você. Matam você gratuitamente, como mataram Aymo. Ou então lhe passam sífilis, como Rinaldi. Mas sempre matam você, no final das contas. Pode confiar nisso. Fique um pouco neste mundo, e acabará morto, sempre” (HEMINGWAY, 2019, p.397).

 

 

 

 

E, para não perder nenhum traço do estilo do cinema, há um romance que percorre o enredo e que fornece uma pitada de meiguice à narrativa, muito embora haja enormes dificuldades para sua concretização. A partir disso, há um contraponto, digno dos grandes clássicos literários, entre beleza e tragédia, ternura e brutalidade.

 

 

 

 

Apesar de ser uma obra nitidamente cinematográfica, o seu desfecho difere da maioria dos filmes hollywoodianos, pois não há o “final feliz” dos contos de fadas. Neste aspecto, o escritor se mantém verossímil ao contexto que se propõe retratar, isto é, de que qualquer conflito bélico é horrendo e traz consequências nefastas a todos os envolvidos, seja direta ou indiretamente. O mais apropriado é, como o título da obra já preconiza, dizermos “Adeus às armas”!

 

 

 

(HEMINGWAY, Ernest. Adeus às armas. 15 ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2019).
- Ads -
Olá, gostaria de seguir o JMais no WhatsApp?
JMais no WhatsApp?