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O Efeito Lula altera a correlação de forças e redefine o tabuleiro eleitoral de 2022

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M. Mattedi*

 

Ouça a coluna no player acima.

 

A decisão do ministro Edson Fachin (STF) de anular todas as decisões sobre Lula tomadas pela 13ª Vara Federal da Justiça Federal de Curitiba responsável pela Lava Jato iniciou a campanha eleitoral e 2022. Lula havia sido condenado em duas ações penais (os casos do tríplex de Guarujá [SP] e do sítio de Atibaia [SP]). Porém, o ministro entendeu que as decisões não poderiam ter sido tomadas pela vara responsável pela operação Lava Jato e determinou que os casos sejam reiniciados pela Justiça Federal do Distrito Federal. Se o plenário mantiver o entendimento de Fachin, o mais provável é Lula se candidatar nas próximas eleições presidenciais de 2022.

 

 

 

Ocorre, contudo, que na prática, ao restaurar os direitos políticos de Lula, a decisão do ministro Edson Fachin materializa um cenário político que opõe o presidente Bolsonaro e Lula em 2022. Afinal, por um lado, é muito difícil que a Justiça Federal do Distrito Federal consiga julgar em tempo hábil novamente as acusações de Lula antes de 2022. Por outro lado, – apesar da incapacidade do Governo Bolsonaro de gerir a crise sanitária e econômica – o presidente Bolsonaro permanece com 1/3 do eleitorado. Isto coloca em rota de colisão os dois extremos do espectro político. Portanto, o Efeito Lula altera a correlação de forças e redefine o tabuleiro eleitoral de 2022.

 

 

 

O Efeito Lula fecha também a possibilidade de unificação da oposição em torno do centro. Afinal, com Lula candidato diminui a chance de alguém da oposição superar o candidato do PT no primeiro turno. Lula concentra os votos que estariam dispersos na esquerda e atrai o campo progressista. Neste sentido, a questão é apenas saber se Lula e o PT conseguirão receber o apoio de todas as demais forças. Se Bolsonaro tem cerca de 30% e Lula outros 30% do eleitorado, são os 40% pendulares que podem ir para um lado por rejeição que tendem a decidir a eleição. Portanto, com a entrada de Lula a eleição de 2022 passa pela capacidade de atrair os eleitores de centro.

 

 

 

 

Porém, com Lula candidato Bolsonaro também se fortalece, o que dificultará a vida dos demais nomes de centro. É que embora o cenário para 2022 seja ainda muito indefinido, o certo mesmo é que no curto prazo a decisão do ministro Edson Fachin acabou beneficiando o presidente Bolsonaro. Por um lado, retira o foco do agravamento da covid-19 e da compra da mansão por Flávio Bolsonaro; por outro, fecha a possibilidade de uma candidatura alternativa a direita. Além disso, se Lula adotar uma postura radical pode acabar beneficiando Bolsonaro. Dessa forma, portanto, permite ao bolsonarismo uma possibilidade de reinterpretar a polarização.

 

 

 

Isto significa que a chance de impedir um segundo turno que oponha o presidente e Lula depende fundamentalmente da capacidade de Lula liderar uma frente ampla de oposição ao Governo Bolsonaro. Neste sentido, a pergunta que importa politicamente é saber se o Lula 2022 será o Lula de 1989 (Radical) ou de 2002 (Moderado). Afinal, se for o Lula de 1989 será bom para Bolsonaro; já se for o Lula de 2002, que se moveu ao centro, constitui uma grande ameaça para Bolsonaro. Considerando estes fatores a eleição num segundo turno que reúna Bolsonaro e Lula possibilita o estabelecimento de dois cenários:

 

 

 

 

  1. Vitória de Bolsonaro: uma eventual vitória de Bolsonaro frente a Lula terá dois efeitos principais. Por um lado, indicam a consolidação do realinhamento a direita do eleitorado; por outro, autorizará Bolsonaro a intensificar pressão autoritária sobre as instituições. Assim, uma eventual reeleição de Bolsonaro quebra o discurso de que a eleição de 2018 foi um acidente e fortalece sua capacidade da Extrema Direita de dobrar as instituições democráticas. Isto significa que o bolsonarismo se sentirá legitimado politicamente para sua estratégia de verticalização do poder.

 

 

 

  1. Vitória de Lula: uma vitória de Lula liderando o campo de oposição tende a ser questionada. Afinal, numa campanha marcada pela mobilização de eleitores fiéis e demonização do adversário reduz as condições de governabilidade da oposição. Porém, dificilmente uma coalisão liderada por Lula conseguiria uma vitória expressiva sobre Bolsonaro. Portanto, a oposição liderada por Lula, ganha mas não teria condições de governabilidade. Algo como o questionamento do resultado das eleições seguindo a postura de Trump, ou até mesmo uma reação armada a vitória de Lula.

 

 

 

 

A eleição ainda está muito longe… E diante do cenário de imprevisibilidade sanitária, econômica e jurídica muita coisa pode acontecer politicamente. Porém, o que se sabe é que as pesquisas de opinião colocam Lula num patamar de intenção de voto mais alto que o do presidente Jair Bolsonaro (Intenção de voto: Lula 50%/Bolsonaro 38%; Rejeição: Lula 44%/Bolsonaro 56%). A pesquisa revela que, diferentemente do que aconteceu em 2018, na eleição de 2022, Bolsonaro será cobrado pelas crises causadas pela pandemia do novo coronavírus.  Por isso, é bem provável que Bolsonaro use o populismo econômico para tentar se fortalecer politicamente.

 

 

 

 

Portanto, embora a decisão do ministro Edson Fachin aponte para polarização, paradoxalmente tanto o bolsonarismo quanto o lulismo dependem dos eleitores moderados de centro para se eleger. Assim, a questão não é saber se Lula consegue mobilizar o antibolsonarismo e se Bolsonaro consegue mobilizar o antipetismo por meio da radicalização política; mas, ao contrário, a vitória em 2022 depende, fundamentalmente, da capacidade de atração do eleitor de centro, pois não há espaço de crescimento para os extremos. Afinal, se de fato a polarização Bolsonaro e Lula se consumar politicamente a verdadeira luta entre Bolsonaro e Lula será pelo eleitor de centro!

 

 

 

* M. Mattedi é professor

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